Por Synnöve Hilkner
Fotos Érica Dezonne
Diretamente de Londres, a fotojornalista Érica Dezonne, aprecia um “English Breakfast” enquanto relembra, sorrindo, do cansaço do último sábado, 19 de maio, quando seu dia começou às 03:30 da manhã, a caminho de Windsor, onde o príncipe Harry e Meghan Markle estavam para se casar. Érica era a única fotojornalista mulher na equipe, da agência de imagens inglesa para a qual colabora, a fazer parte da cobertura jornalística do casamento Real.
As fotos que ela conseguiu foram publicadas em veículos de comunicação ao redor do mundo, incluindo a de um Harry, sorridente, acenando em sua direção, que chegou a ser veiculada em um site de notícias da Finlândia.
Há quatro anos, essa fotógrafa inquieta, com uma carreira sólida no Brasil, no auge da crise dos 30 anos aliada à crise econômica do país, desafiou sua zona de conforto e decidiu se mudar para Londres e explorar o mundo. Na ocasião, já havia trabalhado como repórter-fotográfica há mais de 5 anos no Brasil, passando por grandes jornais, em Campinas e São Paulo. O fato de ser mulher e com pouco mais de um metro e meio de altura, em um meio basicamente masculino, nunca intimidou a fotojornalista. Ela estava onde era preciso, cobrindo protestos, reintegrações de propriedades, flagrando usuários de drogas e a ação da polícia. Foi finalista e ficou entre os 3 primeiros do prêmio Esso de Fotojornalismo em 2011.
Enfrentou muitas dificuldades nessa nova situação de vida pela qual optou. Nos anos em que vive na Inglaterra, por várias vezes, pensou em desistir da fotografia. Para nossa sorte, não desistiu. “Eu estava em um mundo novo, onde não tinha mais crachás nem o conforto da língua nativa”, ela conta, “aqui é um lugar onde tudo é marrom e cinza, enquanto no Brasil, tudo é tão colorido e fácil de fotografar.” A crise existencial que ela viveu após os trinta anos, envolveu a fotografia também. Mas, longe de desistir e levando a carreira em banho-maria, portas começaram a se abrir.
Essa pequena e competente fotojornalista, que ama cobrir esportes, principalmente futebol, passou a ser requisitada para alguns eventos. Em março deste ano, 2018, ela teve a oportunidade de fotografar o UFC – Ultimate Fighting Championship, em Londres. Nova no tema da luta e enfrentando os contratempos do lugar e da péssima conexão com a internet, ela nem teve tempo de reparar que ela era a única mulher fotógrafa no evento. Uma amiga perguntou se ela havia notado e, olhando em volta, ela se surpreendeu ao constatar a situação. “Sim! Eu era! Ser a única ou uma das poucas mulheres em coberturas jornalísticas tem chamado muito a minha atenção e me faz admirar mais e mais mulheres que não se intimidam por estarem em ambientes tradicionalmente masculinos. Sorrio hoje para cada obstáculo superado, agradeço à santa crise por me fazer ser mais forte como profissional, mulher e melhor ser-humana”.
A vida na Europa não é um mar de rosas, mas aos poucos, Érica está retomando os rumos de sua carreira, cobrindo eventos como os jogos da Seleção Brasileira e outros eventos esportivos, algumas coberturas como o casamento Real e o nascimento do terceiro filho do Príncipe William, entre outros. A rua e a vida agitada são a razão de suas lentes e as lentes são a razão de sua vida. Grande Érica!