É domingo, 11h da manhã. Depois de discotecar em um after hours no Bairro Alto, sigo pelo Chiado até a estação do metrô. No caminho, bem em frente ao Café a Brasileira, milhares de turistas sentam-se ao sol e tiram foto com a estátua de Fernando Pessoa.
Ao longo escuto Englishman in New York, música de Sting que fala sobre como é viver em outro país. E não importa se falamos a mesma língua.
Parece que a música toca especialmente para mim. Em um flash, antes de entrar na vertiginosa escadaria da estação Baixa Chiado, me vem na cabeça todos os momentos em que estive em Lisboa fazendo exatamente o que aqueles turistas estavam fazendo.
Antes de fixar residência em Portugal, estive em Lisboa pelo menos umas 10 vezes e nunca me cansava de ir ao Chiado, ao Bairro Alto, em Belém e fazer fotos das mesmas coisas. Aliás, tenho uma verdadeira coleção delas.
Lisboa é tão aprazível ao sol da manhã que não dá vontade de fazer outra coisa além de caminhar por aqui e acolá. Bater perna mesmo.
Desta vez não tirei foto com Fernando Pessoa. Não preciso. Ele estará lá todos os dias que eu passar pelo Chiado. Esse detalhe me grita que vou fazendo parte da cidade. Não me desinteressei a ponto de não fazer a foto, mas eu tenho tantas e é aqui que eu moro agora. Pra que? Sinto-me abraçado pela cidade, seguro e confortável.
A música de Sting me lembra que estou aqui legalmente, mas não deixo de ser um estrangeiro, a observar a cidade com olhos de fora, ainda. As vezes me pego prestando atenção nos sotaques do português da Ilha da Madeira ou das ex-colônias, dos negros que passeiam lindamente vestidos com seus trajes africanos. Muita cor, muita beleza. E as línguas? espanhol, chinês, japonês, inglês… já perdi a conta.
A saudade que Paulo, meu marido, sentia daqui quando morou em Campinas, agora entendo perfeitamente. Sentar em uma mesa do lado de fora de uma cafeteria e ver o tempo passar. Jogar conversa fora, viver! Em Campinas não temos isso, infelizmente. Tudo é tão dentro de shoppings.
No prédio onde moro tem as senhoras se encontram para o cafezinho e um bom bate-papo, todos os dias. Combino de ver minha sogra e ela me diz pra ligar assim que chegar, pois estará com as amigas no café.
Ainda não me habituei, mas já parei com Paulo e sentamos quase a beira do Tejo pra tomar café e conversar. As coisas pesadas da vida ficam mais leves. Outro dia, além do café, pedi um pastelzinho de bacalhau em outro, um pastel de natas. Tem coisa melhor?
Sim, sou um alienígena legalizado. Não com vontade de conquistar uma planeta distante, mas me deixar ser conquistado por essa terra e essa gente que me ouve, sabe que vim do Brasil, e me acolhe.