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Quais são os valores permanentes de uma nação?
A antropóloga e professora Regina Márcia Moura Tavares (Foto Martinho Caires)

Quais são os valores permanentes de uma nação?

Por Regina Márcia Moura Tavares

“Quais são os valores permanentes de uma nação? Quais são verdadeiramente esses pontos de referência nos quais podemos nos apoiar, podemos nos sustentar porque não há dúvida de sua validade, pois não podem ser postos em dúvida? Só os bens culturais… Estamos num processo nítido de querer encontrar nossa identidade política… Não há outro caminho a não ser o conhecimento, a identificação, a consciência coletiva, a mais ampla possível, dos nossos bens e nossos valores culturais”.

(ALOÍSIO MAGALHÃES, ex-Ministro da Cultura. Discurso na instalação dos Conselhos Estaduais de Cultura das Regiões Centro-Oeste e Norte. Goiânia, 26 de maio de 1982)

Sabemos que o Homem vive num universo de símbolos que ele mesmo cria para sobreviver e organizar a vida em sociedade. Desta forma, a criatividade humana tem-se tornado a condição “sine qua non” para a continuidade da espécie, através dos séculos e milênios.  Porém, o gênio criador do “Homo Sapiens” necessita permanentemente ser estimulado, para que ele possa dar respostas adequadas às necessidades que emergem no seu fazer histórico, pois é sempre diante da necessidade, da solicitação iminente que o pensamento humano avança além das fronteiras conhecidas.

Ao longo de muitas gerações, cada povo, cada população de uma dada região ou de uma cidade acumula uma herança cultural, ou seja, um conjunto de bens, materiais e imateriais, fruto das relações do Homem com o seu meio natural e com os demais indivíduos da coletividade, assim como as interpretações dessas relações. Dá-se o nome de patrimônio cultural a tal acervo quando há uma tomada de consciência, por parte da população, relativamente ao valor dele para a percepção das identidades individual, social e a própria continuidade grupal.

Arte, memória, preservação, patrimônio, cultura, temas fundamentais no trabalho de Regina Márcia Moura Tavares (Fotos Martinho Caires e Arquivo)

Arte, memória, preservação, patrimônio, cultura, temas fundamentais no trabalho de Regina Márcia Moura Tavares (Fotos Martinho Caires e Arquivo)

Percebe-se, então, que existe uma íntima relação entre o Patrimônio Cultural, o Potencial Criativo e o Desenvolvimento das sociedades humanas. Melhor dizendo, se cada povo , população ou segmento da sociedade for capaz de reconhecer, documentar, revitalizar e preservar a Herança que inúmeras gerações anteriores construíram, com criatividade, para o enfrentamento dos desafios da existência e souber  incorporar a ele, de forma seletiva, elementos novos conquistados pelo avanço do pensamento humano, não há dúvida que estará indo na direção de um Desenvolvimento referido à realidade local, e não mimético, como é costume acontecer em países de tradição colonial.

A assertiva “quem não sabe de onde vem, não sabe para onde vai” é profundamente verdadeira! A caminhada consciente, responsável, democrática e esperançosa de um grupo social, de uma cidade, de uma região ou de um país, sobretudo nesse momento da globalização econômica, está a exigir uma cumplicidade entre a ação preservacionista e a político-econômica. O ato de preservar é um momento importante de uma proposta educacional mais ampla na qual os sujeitos são preparados não somente para a manutenção dos padrões culturais vigentes, mas principalmente, para uma ação criativa na direção de novas soluções para os problemas emergentes.

Museus, Centros de Memória e Espaços Culturais Múltiplos onde a população possa mirar-se como num espelho, compreender-se como agente histórico-cultural, projetar seus anseios e inventar caminhos de futuro através de uma ação interativa, são organismos tão importantes para uma sociedade quanto o Hospital, a Escola e a Casa Própria.

Infelizmente, em nosso país, tal questão é profundamente descurada, até porque o que foi feito até agora em termos de Preservação da Memória envolve um viés muito elitista; ou seja, insiste na identificação quase que exclusiva de um patrimônio que sempre refletiu a cultura de uma camada privilegiada da população. E, é bem por isso que muitos Museus passam parte de suas existências entregues às moscas, Centros de Memória aos especialistas que se repetem infinitamente em artigos e livros que poucos leem, e outros espaços culturais ficam ao sabor de modismos e do empenho de alguns poucos aficionados.

Se considerarmos que inúmeras cidades da Região Metropolitana de Campinas têm suas existências ligadas às culturas do café e do açúcar, à produção têxtil e a outras atividades econômicas as quais desencadearam o surgimento de usos, costumes, tecnologias, expressões linguísticas, desenhos urbanos, relações sociais e outros tantos aspectos culturais que as modelaram ao longo de gerações, nada seria mais oportuno do que a revitalização dessas tradições em modernos, visualmente atraentes, tecnológica e metodologicamente bem estruturados, espacialmente bem localizados e economicamente rentáveis  “MUSEUS AO AR LIVRE”. Parques temáticos semelhantes proliferam no Canadá, Holanda, EEUU, Noruega, Inglaterra e em outros países onde já se descobriu que uma empresa cultural de tal envergadura, além de mudar a posição dos números na balança comercial, abre frentes de emprego, resgata a autoestima, desenvolve a cidadania, garante a identidade.

É necessário, entretanto, que as populações das mencionadas cidades queiram fazer acontecer estes novos espaços culturais; que empresários ousados invistam para vê-los funcionando como um “Wet’n Wild” mais original, competente e cheirando a Brasil; e que as administrações públicas da região estejam empenhadas em desvendar as Culturas locais para os próprios cidadãos e para o mundo inteiro. A Região Metropolitana de Campinas tem características muito especiais, vocação estratégica e condições extremamente favoráveis ao TURISMO CULTURAL. Por que, então, não se investir verdadeiramente na Identificação, Valorização e Preservação do Diversificado Patrimônio Cultural Regional e, em parcerias bem estruturadas, as múltiplas cidades procurarem criar “ESPAÇOS CULTURAIS INTERCIDADES” que a possam projetar mundialmente, inclusive?

Cumpre lembrar, sempre, que para que um Estado seja forte é preciso que haja, antes dele, um povo consciente erguendo uma Nação!

Regina Marcia_500X500Regina Márcia Moura Tavares é antropóloga, professora universitária aposentada, ex-conselheira do CONDEPHAAT e, atualmente, do CONDEPACC, membro da Academia Campinense de Letras e do Instituto Histórico de Campinas, entre outros.

 

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