O nível dos reservatórios do Sistema Cantareira continua em queda livre, chegando a 6,6% neste sábado, 10 de janeiro. Aumenta com isso o risco de desabastecimento de água na Grande São Paulo, com impacto também na Região Metropolitana de Campinas (RMC), situada nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ). Cresce também a inquietação em vários setores sociais, segmento produtivo e órgãos públicos. O novo presidente da Sabesp, Jerson Kelman, já admitiu que a crise hídrica pode se agravar em 2015.
Formados por águas da bacia do rio Piracicaba, os reservatórios do Cantareira abastecem metade da Grande São Paulo, localizada na bacia do Alto Tietê. Mas como lembra o professor Dr.Antônio Carlos Zuffo, do Departamento de Recursos Hídricos da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp, os atuais 6,6% do Cantareira já incluem o Volume Morto, utilizado desde maio de 2014 pela Sabesp, que opera o Sistema.
No início do passado, o Cantareira tinha 27,2% de capacidade, mas sem contar o Volume Morto. Ou seja, em um ano os reservatórios perderam praticamente a metade do que tinham, no contexto de uma grave estiagem. Em 2014, choveu 965 mm no Sistema Cantareira, contra a média histórica de 1551 mm. Se a estiagem se prolongar nos primeiros meses de 2015, repetindo o ano anterior, “é altíssimo o risco de desabastecimento” na região mais populosa e rica do país, alerta o professor Zuffo da Unicamp.
Se antes os gestores tentavam demonstrar tranquilidade, a situação mudou. Em seu discurso de posse, na sexta-feira, 9 de janeiro, o novo presidente da Sabesp foi taxativo: “Seria irresponsabilidade no quadro que a gente está hoje, 9 de janeiro, olhar para frente com otimismo. Temos que estar preparados para o pior”.
O Departamento de Recursos Hídricos da Unicamp já anunciou que promoverá uma ampla discussão nos próximos meses, com a participação de renomados especialistas dos Estados Unidos, experientes em situações de escassez hídrica. O debate será promovido para que “não venham medidas de cima para baixo, mas de baixo para cima” no equacionamento da crise hídrica, como afirmou o professor Zuffo à Agência Social de Notícias.
Os demais sistemas que abastecem a Grande São Paulo não estão em situação diferente. O Alto Tietê, que abastece 4,5 milhões de pessoas, está com 11,6% da capacidade, já utilizando um volume adicional transferido desde 14 de dezembro da represa Ponte Nova. (Por José Pedro Martins)