Imortalizada pela tragédia de Eurípedes, Alceste é uma das personagens mais emblemáticas e enigmáticas da cultura helênica. Compõe com Antígona e Electra, entre outras, o elenco de mulheres de ouro do teatro grego clássico.
Alceste ressuscitou porque havia se sacrificado pelo marido, Admeto. Comovido por seu ato heroico, Hércules, ou Heraclés, a resgatou do Hades após vencer a batalha contra Tânatos, o ícone da morte.
O episódio é mais um dentre tantos exemplos da sociedade sacrificial, a que louva a imolação, geralmente a favor de um deus, e que está na base da cultura e do mundo ocidental. E ainda hoje, século 21, milhões continuam sendo sacrificados pelas novas divindades, as do consumo e do dinheiro.
Mas Alceste é, sobretudo, paradigma de ressurreição, de resistência. E continua sendo referência. Alceste é a sigla de Analyse Lexicale par Contexte d´um Ensemble de Segments de Texte, um programa desenvolvido no Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS), da França.
Alceste, o software, faz vários tipos de análise de texto, com larga utilização nas ciências sociais, mass media, sociologia e outros ramos do conhecimento e da tecnoeconomia.
Uma das principais utilidades de Alceste é identificar o que de mais importante há em um texto. As suas estruturas e as palavras principais. A essência, o que importa, assim como Hércules, ou Heraclés, em uma das falas mais relevantes de Alceste, o drama, acentua o que de mais importante há na vida, porque, afinal, a morte – autoritária e democrática – iguala a todos.
Ser ou não ser são coisas bem diferentes, diz Hércules, em uma frase que para muitos estudiosos inspirou Shakespeare no famoso monólogo de Hamlet.
Por tudo isso é fundamental ler os clássicos, e entre eles Alceste, que participa por exemplo (com Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, e Ájax, de Sófocles) do Volume VI da coleção Tragédia Grega, da Jorge Zahar Editor, com tradução do grego e apresentação por Mário da Gama Kury. (Por José Pedro Martins)