“Wirandé”, um filme de animação produzido em Campinas, e que começou a ser idealizado na Amazônia, acaba de passar a integrar o acervo de um dos mais importantes museus sobre questões indígenas do mundo, o The Smithsonian National Museum of the American Indian. O acervo da New York University também passou a contar com o filme, realizado em 1992 no Núcleo de Cinema de Animação de Campinas, com direção de Wilson Lazaretti e Maurício Squarisi. A música é assinada por Ney Carrasco, atual secretário municipal de Cultura de Campinas. O filme, que mostra como o amanhã pode ser diferente, pode ser assistido abaixo.
O diretor Maurício Squarisi lembra que em 1991 o Núcleo de Cinema de Animação de Campinas esteve na Amazônia para a realização de “ÇUIKÍRI”, que na língua nheengato significa “verde” . O trabalho aconteceu em São Gabriel da Cachoeira, 850 km floresta adentro, às margens do Rio Negro. Estiveram envolvidas 35 crianças e adolescentes indígenas de várias etnias.
Como continuidade ao projeto, no ano seguinte (1992) a situação foi invertida. Um então adolescente da Amazônia, o índio baré Denivaldo Cruz, então com 19 anos, esteve em Campinas, participando de um grupo com outros jovens locais. Esse grupo produziu “WIRANDÉ”, que na língua nheengatu significa “amanhã”. O filme percorreu alguns festivais e agora integra um dos acervos mais importantes em arte indígena.
O filme foi animado pelo grupo de jovens: Carolina Copia, Édson Pereira dos Santos, Fernando Lamanna, Joseano Torres, Nilson Félix, Paulo C.Oliveira e Suzana F.Araújo e Denivaldo Cruz da Silva, da etnia Baré. A narração é de Neville George. Co-produção da Secretaria Municipal de Cultura, Esportes e Turismo de Campinas.
“Wirandé” faz uma forte crítica ao processo de colonização europeia, pelo seu impacto para os povos indígenas das Américas. E também questiona o modo de vida urbano atual, embora deixe, no final, uma mensagem de esperança: é possível mudar a situação.
Os dois filmes, “ÇUIKÍRI” e “WIRANDÉ”, foram produzidos em um período de muita discussão sobre o futuro da Amazônia em geral e dos povos da floresta em particular. O assassinato do líder ecologista e seringueiro Chico Mendes, a 22 de dezembro de 1988, em Xapuri, no Acre, chamou a atenção mundial para a situação da Amazônia. Em 1989, em Rio Branco, capital do Acre, aconteceu o I Encontro dos Povos da Floresta, com a participação de representantes de várias etnias indígenas, além de seringueiros, outros extrativistas e ribeirinhos. Foi a gênese das Reservas Extrativistas criadas na região e do movimento contrário às hidrelétricas na Amazônia.
Em 1992, ano da realização de “WIRANDÉ”, novamente o Brasil esteve no centro das ações globais, pela realização, em junho, no Rio de Janeiro, da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92, o maior evento já realizado sobre a temática até o momento. (Por José Pedro Martins)