Entre 5 de agosto, no começo dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, até 18 de setembro, final das Paralimpíadas na chamada Cidade Maravilhosa, vai vigorar o pedido de Trégua Olímpica, feito pela Assembleia Geral das Nações Unidas. A iniciativa relembra a trégua nos conflitos, observada na Grécia durante os Jogos Olímpicos da antiguidade. É um momento simbólico de celebração da paz em todo mundo.
Sempre na véspera das Olimpíadas e Paralimpíadas, a Assembleia Geral da ONU aprova uma resolução visando “Construir uma sociedade pacífica e um mundo melhor através do esporte e do ideal olímpico”, na qual faz um apelo a que todos os seus mais de 190 estados membros observem o cessar de hostilidades durante o período olímpico seguinte.
Diversas fontes apontam para o ano de 776 a.C como o início das Olimpíadas na antiga Grécia. Eram jogos realizados em Olimpia, onde estava situado um santuário em homenagem a Zeus, no Noroeste do Peloponeso, a 320 quilômetros de Atenas e a 80 de Esparta. Nesse território, às margens do rio Alfeo, eram promovidas competições e celebrações aos deuses durante cinco dias. Corrida no estádio, corrida com armas, salto em distância, lançamento de disco, box, luta, corrida de bigas, montaria e pentatlo, entre outras, eram as modalidades desses pioneiros Jogos Olímpicos.
Durante os jogos era observada a Ekekheria ou Trégua Olímpica. Três Espondoforos, ou Mensageiros da Paz, partiam de Olímpia para avisar a todo povo que o período de trégua havia começado. O uso de armas era então proibido naquele momento. Com a interrupção das atividades militares, os soldados retornavam a seus quarteis. Poucas vezes essa trégua foi rompida, nos mais de mil anos de duração dos Jogos Olímpicos da antiguidade.
A vinculação entre esporte e paz estava presente na inauguração das Olimpíadas modernas pelo Barão de Coubertin, no final do século 19. Depois de um tempo de esquecimento, durante o longo período da Guerra Fria, o ideal da Trégua Olímpica foi retomado com vigor nas Olimpíadas de Barcelona, em 1992.
A Europa estava atormentada com o início de intensos conflitos armados na antiga Iugoslávia e o então presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), o espanhol Juan Samaranch, liderou o pedido de retomada da Trégua Olímpica, aprovada pela Assembleia da ONU em 25 de outubro de 1993. Desde então, em toda véspera de Jogos Olímpicos as Nações Unidas retomam o apelo à Trégua Olímpica.
Em 2000, foi criada a Fundação Internacional para a Trégua Olímpica, fruto de parceria entre o COI e o governo da Grécia. O atual presidente do COI, Jacques Rogge, é o presidente do Conselho Internacional da Fundação. Atenas é a sede da organização, que em 26 de julho de 2012, nas vésperas da abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, reiterou em mensagem o sentido da Trégua Olímpica, dirigindo-se especialmente à situação na Síria.
Naquela ocasião, a Fundação Internacional para a Trégua Olímpica fez um apelo para “todos os lados na Síria para honrar a trégua olímpica”. Para a Fundação, a suspensão das hostilidades, se ocorresse apenas durante a duração dos Jogos Olímpicos, poderia criar um “espaço para negociações para resolver a crise pacificamente”. Um cessar-fogo, continuou a mensagem, representaria “dar esperança e perspectivas para as pessoas sitiadas da Síria por um futuro brilhante e pacífico“.
Não deve ser diferente agora, nas vésperas das Olimpíadas e Paraolimpíadas do Rio de Janeiro, em que o plante vive situações de guerra e terror em várias regiões, atingindo inclusive a Europa, e também lembrando-se as milhares de mortos anualmente no Brasil pela violência.
Como aconteceu durante os sucessivos conflitos nas repúblicas que integravam a antiga Iugoslávia, e que duraram até 2001, a Trégua Olímpica não foi observada na prática por ocasião dos Jogos de Londres em 2012. Durante a então Trégua Olímpica, continuaram ocorrendo a guerra civil na Síria e conflitos em países como Somália, Sudão, Sudão do Sul e Mali. De qualquer modo, o sonho pela paz impulsionada pelo esporte continua, com o sentido da Trégua Olímpica resgatado.