Ibimirim, no sertão de Pernambuco, e Pescara, nos Abruzzi italianos, são os pontos de partida de duas trajetórias distintas, mas que alcançaram uma intersecção no Centro de Convivência Cultural de Campinas. Nesse espaço, o pernambucano Adagenir Oliveira e o italiano Fúlvio Marano apresentam suas telas, a poucos metros um do outro, como aconteceu na manhã de sábado, 5 de março, dia seguinte à turbulenta sexta-feira, em que o Brasil mais uma vez conviveu com o arbítrio, bravatas e manifestações de intolerância. O contrário do que acontece no universo da arte, onde o diálogo entre diferentes é pão de cada dia.
Adagenir já fez muita coisa na vida, mas o que lhe alimenta é a arte. As vibrantes cores do Nordeste e da cultura brasileira são a sua inspiração e estão presentes nos quadros que expõe há vários anos na feira de artesanato do Centro de Convivência. “Desde criança eu gosto de pintar e nunca mais parei”, conta o pernambucano, que diz esperar com ansiedade os finais de semana, quando pode encontrar os outros artistas e, sobretudo, exibir suas peças, que denotam uma profunda imersão na alma brasileira.
A obra de Adagenir é uma mescla de influências. Impressionismo, expressionismo e arte acadêmica são algumas delas, propiciando um olhar terno e esperançoso de homens e mulheres do campo e das cidades. Ecos da infância no semiárido nordestino, matriz de uma cultura rica e plural.
Bem pertinho do pernambucano, a arte de Fúlvio Marano, nascido na Itália e há décadas no Brasil. Ele trabalhou por vários anos na Editora Abril e também é publicitário, e há tempos expõe na feira de artesanato do Centro de Convivência, essa galeria a céu aberto que em todos sábados e domingos é um convite à comunhão de afetos, sabores e prazeres.
A arte de Marano conversa com o global. Em telas maiores, uma representação colorida do legendário Café de Flore de Paris e uma leitura singular do MASP e a multidão onipresente de São Paulo. Em um quadro menor, no tamanho, a sua visão de Veneza, a pérola igualmente banhada pelo Mar Adriático, como sua Pescara natal.
Marano diz que gosta muito da arte contemporânea e da ampliação do conceito de arte nos tempos atuais, mas avisa: “É preciso ter a base acadêmica, ter noção de proporção, de profundidade”. Acima de tudo, afirma, está o poder transformador e de comunicação da arte. “Pela arte o ser humano expressa o que sente, o que vê. E um prato de comida já é arte, pois expressa uma cultura”, lembra.
Dois destinos que se cruzaram, a milhares de quilômetros de suas origens. A arte e seu potencial criador, libertador e de união, doce brisa de esperança em tempos de discórdia e autoritarismo. E arte no Brasil, pátria com vocação de diversidade. (Mais histórias sobre personagens da feira de artesanato do Centro de Convivência Cultural de Campinas aqui , aqui e aqui) (Por José Pedro Martins)