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Encontro em Campinas consolida visão municipalista da Cultura Viva Comunitária
Encontro aconteceu na Sala dos Toninhos da Estação Cultura e outros espaços em Campinas (Foto Martinho Caires)

Encontro em Campinas consolida visão municipalista da Cultura Viva Comunitária

A consolidação de uma visão municipalista para o movimento de Cultura Viva Comunitária no continente, a partir da formação e do entrelaçamento de redes locais e regionais. Este é um dos resultados do Encontro Cultura Viva Comunitária nas Cidades da América Latina, encerrado nesta terça-feira, dia 4 de julho, em Campinas, como uma das etapas de preparação para o III Congresso Latino-Americano de Cultura Viva Comunitária, a ser realizado entre os dias 20 a 26 de novembro em Quito, no Equador.

“O Encontro foi um oásis em um cenário de desestruturação do Ministério da Cultura, pois mostrou a vitalidade das redes locais, o fortalecimento de uma perspectiva municipalista da Cultura Viva Comunitária latino-americana”, comemorou Marcelo das Histórias, do coletivo NINA de Campinas, um dos Pontos de Cultura locais que ajudaram a organizar e viabilizar o evento.

Marcelo das Histórias: fortalecimento de uma perspectiva municipalista (Foto Martinho Caires)

Marcelo das Histórias: fortalecimento de uma perspectiva municipalista (Foto Martinho Caires)

Depois de quatro dias de cortejos, rodas de conversa e visitas a vários elos da rede de Pontos de Cultura de Campinas e região, o Encontro terminou com o início da formulação de uma Carta Compromisso, que continuará a ser redigida no I Encontro Latino-Americano de Comunicação Comunitária, entre os dias 6 e 9 de julho, em Niterói. A própria cidade de Niterói, observa Marcelo das Histórias, já se prontificou a dar continuidade à agenda de eventos para reforçar a visão municipalista da Cultura Viva Comunitária, assim como Rio Grande, no Rio Grande do Sul.

Outra tendência identificada no Encontro de Campinas é a do avanço do diálogo entre os Pontos de Cultura, pilares do movimento Cultura Viva Comunitária, com as Universidades. “O Brasil vive um momento muito difícil, com o Ministério da Cultura que se encontra acéfalo, mas o Encontro de Campinas confirmou que as redes da sociedade civil que estão na base da Cultura Viva Comunitária estão muito ativas, em território brasileiro e em vários países”, salienta Ivana Bentes, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e uma das principais referências no continente em pesquisas relacionadas ao movimento.

Ivana Bentes: Universidade precisa se abrir para a Cultura Viva Comunitária (Foto Martinho Caires)

Ivana Bentes: Universidade precisa se abrir para a Cultura Viva Comunitária (Foto Martinho Caires)

Com vários livros publicados, e intensa atividade no segmento audiovisual, Ivana Bentes entende que a Universidade pode, de fato, contribuir para um salto do movimento da Cultura Viva Comunitária, através de suas atividades de extensão. “Os alunos podem atuar em teatro, terreiros, enfim, sair da sala de aula, fazendo uma Universidade aberta para o mundo”, nota a pesquisadora.

Ela nota que a própria instituição universitária onde trabalha passou por uma importante transformação nos últimos dez anos, sinalizando para um maior diálogo com a sociedade. “A Universidade agora tem grupos indígenas, alunos de matriz cultural africana e outros que também querem compartilhar os seus saberes, e não apenas reproduzir os saberes estabelecidos”, lembra Ivana Bentes, para quem é irreversível, portanto, uma maior abertura da academia para absorver e compartilhar conhecimentos com a sociedade da qual ela faz parte.

A professora da UFRJ entende que efetivamente, na atual conjuntura política, representa um grande desafio a manutenção em condições ideais da Cultura Viva como um programa do Ministério da Cultura, o que acontece desde a gestão de Gilberto Gil, durante o governo Lula. Entretanto, ela lembra que a Cultura Viva Comunitária, enquanto política pública, não pode ser extinta, pois foi transformada em lei federal, de número 13.018, sancionada pela ex-presidente Dilma Rousseff em 22 de julho de 2014. “A Política Nacional de Cultura Viva é lei, só pode acabar se mudar a Constituição, e além do mais hoje ela é transversal, mais de 1.000 municípios a praticam, com prefeitos do PMDB, do PSDB, do DEM e outros”, observa.

Além do arcabouço jurídico e das injunções políticas, o Encontro de Campinas, encerrado nesta terça-feira gelada, demonstrou que de fato o movimento da Cultura Viva Comunitária apenas avança no continente. Foram vários relatos apontando nessa direção, como os de Rafael Paredes, do México, ou de Milagros Lorier, do Uruguai, informando sobre a realização dos primeiros encontros nacionais de Cultura Viva em seu países, antes do III Congresso Latino-Americano no Equador.

Jairo Castrillón: Cultura Viva e identidade latino-americana (Foto Martinho Caires)

Jairo Castrillón: Cultura Viva e identidade latino-americana (Foto Martinho Caires)

“Os diferentes grupos sociais praticam a Cultura Viva Comunitária há séculos na América Latina, e há 40 anos como fenômeno mais urbano. A partir da experiência do Brasil, iniciada na gestão de Gilberto Gil e com a importante contribuição de Célio Turino, de Campinas, os grupos que atuam nos diferentes países perceberam que tinham muita identidade e passaram a pensar e atuar em rede e isso dá muita vitalidade e esperança para o movimento, atuando sem o Estado, com o Estado e muitas vezes contra o Estado”, resume Jairo Castrillón Roldan, um dos formuladores da Lei e da Política de Cultura Viva Comunitária de Medellín, na Colômbia, cidade e país que se tornaram inspiração no tema. Em suas palavras está a caracterização de um movimento criado a partir das dores e dos amores que a mestiçagem e a diversidade proporcionaram na linda e sofrida América Latina.  (Por José Pedro Martins)

 

 

 

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Organização sediada em Campinas (SP) de notícias, interpretação e reflexão sobre temas contemporâneos, com foco na defesa dos direitos de cidadania e valorização da qualidade de vida.

Um comentário

  1. Maria Cristina Soares de Lima Mendes

    Estou resgatando a cultura cigana junto de um grupo de pessoas, da qual apenas uma é cigana de sangue afastada já alguns anos do clã. Está sendo uma troca de saberes impar. Nossa tentativa é fugir dos estereótipos que a mídia tenta implantar como a verdade desse ‘povo invisível’ e abrir espaço em nossa comunidade para a sua valoração e integração.

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