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Avanço acelerado da urbanização ameaça Mata Atlântica e Amazônia, diz ONU
Biodiversidade brasileira também ameaçada pelo avanço da urbanização (Foto Adriano Rosa)

Avanço acelerado da urbanização ameaça Mata Atlântica e Amazônia, diz ONU

O rápido avanço do processo de urbanização está ameaçando áreas ricas em biodiversidade em todo mundo, como fragmentos da Mata Atlântica e a Amazônia no Brasil. O alerta está no livro “Panorama da Biodiversidade nas Cidades”, que acaba de ser lançado pela Convenção da Diversidade Biológica (CDB), implementada no âmbito das Nações Unidas, com apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Centro de Resiliência de Estocolmo, Universidade de Estocolmo e Governos Locais pela Sustentabilidade (ICLEI).

“A expansão urbana e a fragmentação de habitats estão transformando rapidamente habitats críticos que têm valor para a conservação da biodiversidade ao redor do globo – os chamados hotspots – entre eles a região da Mata Atlântica no Brasil, o Cabo da África do Sul e a zona costeira da América Central”, afirma o estudo, resultado da colaboração de dezenas de cientistas e instituições internacionais.

Os impactos diretos do crescimento urbano, prossegue o documento, “têm efeitos claros sobre a biodiversidade em muitos biomas: por volta de 10% dos vertebrados terrestres se encontram em ecorregiões que são fortemente afetas pela urbanização”. O estudo observa que, a continuarem as atuais tendências de densidade populacional, até 2030 o território urbano aumentará entre 800 mil e 3,3 milhões de quilômetros quadrados, representando um aumento de duas a cinco vezes em relação a 2000. “Isto resultaria em uma perda considerável de habitats cruciais para a biodiversidade”, destaca o estudo.

De acordo com a publicação, a biodiversidade da América Latina em geral é muito ameaçada pela urbanização. “O número de cidades na região aumentou seis vezes nos últimos 50 anos (embora as taxas de crescimento tenham diminuído), enquanto as áreas rurais estão sendo abandonadas”. E a advertência, diretamente em relação ao Brasil: “Atualmente, a ´fronteira` do desmatamento avança com cidades fundadas há menos de 20 anos na bacia amazônica a partir do sudeste brasileiro, e ao longo de estradas e rios importantes”.

O livro trata particularmente da situação da “megacidade de São Paulo”, que ainda contém importante área de Mata Atlântica, cobrindo 21% do município. Essa cobertura é uma floresta densa “em estágios variados de sucessão ecológica, mas esses remanescentes estão sob forte ameaça devido à ocupação desenfreada por moradias de baixa renda e condomínios de luxo”. O estudo observa ainda que a Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo, parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica da UNESCO, “protege remanescentes importantes dessa floresta tropical, além de ecossistemas associados a ela”.

A publicação da Convenção da Diversidade Biológica (que tem prefácio do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon) nota que, com raras exceções, como os casos de Bogotá, na Colômbia, e Curitiba, no Brasil, “a gestão e o planejamento para a biodiversidade e serviços ecossistêmicos em cidades da América Latina pouco são considerados”. Considerações mais urgentes, “como proporcionar moradia para imigrantes da zona rural, são priorizadas sobre os valores ambientais e da biodiversidade”.

A Convenção pede, então, para o que chama de “mensagens-chave”, que as cidades deveriam seguir, em termos de contribuição para a proteção da biodiversidade, tais como: A biodiversidade e os serviços ecossistêmicos urbanos podem contribuir para a mitigação e adaptação à mudança do clima; Aumentar a biodiversidade nos sistemas alimentares urbanos pode promover a segurança alimentar e nutricional; e O manejo da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos deve partir do envolvimento de atores múltiplos, setores múltiplos e escalas múltiplas.

Sobre José Pedro Soares Martins

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