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LISBOICES: Uma linguiça que nada tem de linguiça
Alheira, tradição portuguesa de Trás-os-Montes (Foto Eduardo Gregori)

LISBOICES: Uma linguiça que nada tem de linguiça

Por Eduardo Gregori

Eu amo embutidos e não há outro lugar no mundo como Portugal neste quesito gastronômico. Andava com saudade de um bom salsichão branco, bem típico alemão e que há tempos não encontrava nos supermercados de Campinas. Procurando aqui em Lisboa e me deparei com uma linguiça branca. Achei que fosse a alemã, mas quando cheguei em casa meu marido riu-se e me revelou que de alemã aquela linguiça não tinha nada. Pelo contrário, era tipicamente portuguesa, da região de Trás-os-Montes. Tratava-se de uma alheira.

As alheiras têm toda uma história ligada a Portugal. Conta-se que no final do século XV os judeus que viviam em Trás-os-Montes (e que não comiam carne de porco) criaram a alheira para escapar da Inquisição. Como não comiam embutidos, eram facilmente identificados e, por isso, decidiram usar outros tipos de carne, criando embutidos que pareciam linguiças tradicionais, mas que não violavam suas crenças e ainda lhes garantia um disfarce contra a perseguição da Igreja.

Desde então, a alheira pode ser apreciada nos seus mais distintos ingredientes, entre o pão de trigo, carnes e temperos variados. É uma delícia, é verdade, mas também é uma comida muito forte. É preciso ter um paladar apurado para realmente gostar da alheira. Na primeira mordida não gostei muito. A gente fica tentando identificar a receita e o paladar parece meio perdido naquela mistura de sabores e textura. Afinal, o formato é de uma linguiça, mas o gosto, ah, esse não tem nada a ver.

A alheira é como uma refeição completa, mas há quem prefira saborea-la acompanhada de um ovo estrelado, de uma salada ou ainda com batatas fritas ou assadas. É uma comida bastante calóricas, mas é possível deixa-la um pouco mais leve grelhando, ao invés de frita-la. Outra forma é leva-la ao forno. O preparo final é por conta do freguês.

Vamos fazer uma alheira?

Ingredientes

1 kg pão de trigo

200 gramas de carne de vaca

150 gramas de presunto

1/2  galinha

200 gramas de  carne de porco

10  dentes de alho

1 colher de sopa de colorau

1 ramo salsa

1  tripa para enchidos

200 gramas de toucinho

Sal a gosto

Preparo

Cozinhe todas as carnes em água suficiente para as cobrir, (de modo a obter no final um caldo gordo) e também o alho, a salsa e sal.

À medida que as carnes forem ficando cozidas, retire-as e desfie-as, esmague a parte gorda do toucinho e também desfie.
Lave bem a tripa.

Corte o pão em fatias finas.

Quando as carnes estiverem todas cozidas, regue o pão com o caldo quente e tape-o com um pano durante alguns minutos. Amasse o pão com uma colher de pau e junte as carnes desfiadas e uma colher de (sopa) de colorau, mexendo bem.

Retifique os temperos e encha a tripa enquanto o recheio está quente.

Vá enchendo e cortando as alheiras com 15 cm de comprimento. Não se esqueça de atar bem as pontas.

Depois de prontas, deixe na geladeira durante 1 ou 2 dias.

Pra servir escolha a opção que mais lhe apetece: fritar em azeite bem quente, grelhar ou no forno. Aproveite!

 

Sobre Eduardo Gregori

Eduardo Gregori é jornalista formado pela Pontifícia Católica de Campinas. Nasceu em Belo Horizonte e por 30 anos viveu em Campinas, onde trabalhou na Rede Anhanguera de Comunicação. Atualmente é editor do blog de viagens Eu Por Aí (www.euporai.com.br) e vive em Portugal

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