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Desigualdade volta a crescer no Brasil, alerta Oxfam (DDHH JÁ – Dia 1, Art.1)
Coleta e destinação de resíduos continuam sendo um dilema em grande parte do Nordeste, região com muitas doenças consideradas negligenciadas, um dos sintomas da desigualdade social estrutural no Brasil (Foto Adriano Rosa)

Desigualdade volta a crescer no Brasil, alerta Oxfam (DDHH JÁ – Dia 1, Art.1)

Por José Pedro S.Martins

Entre 2002 e 2016 o Índice de Gini da renda familiar per capita, que mede o grau de desigualdade, caiu um ano após o outro no Brasil, de acordo com os dados coletados regularmente pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), executada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pois entre 2016 e 2017 o declínio parou de acontecer, tendo como uma de suas consequências o salto da pobreza extrema, que em 2017 já atingia 15,2 milhões de brasileiros. Uma radiografia desse retorno da marcha da pobreza e do estacionamento na queda da desigualdade está no relatório “País estagnado: um retrato das desigualdades brasileiras”, que a Oxfam Brasil publicou no final de novembro de 2018. Um alerta para o novo governo brasileiro e um indicativo de que o Artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos está longe de ser cumprido no país.

“Infelizmente, nosso relatório revela que o país estagnou em relação à redução das desigualdades. Mais que isso, podemos estar caminhando para um grande retrocesso. E, novamente, quem está pagando a conta são os mesmos de sempre: as pessoas em situação de pobreza, a população negra e as mulheres”, declarou Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil.

De acordo com o relatório (aqui), exatamente no momento em que a Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988, marcava os seus 30 anos, como “o principal instrumento para a redução de desigualdades na história do Brasil”, o país não tem muito o que comemorar. Pelo contrário. “vemos conquistas importantes serem desmanteladas e o prenúncio de um período de crescimento da pobreza e das desigualdades no país”, afirma o documento, formulado por Rafael Georges, coordenador de Campanhas da Oxfam Brasil.

Além da interrupção na queda do Índice de Gini da renda familiar per capita, o relatório da Oxfam nota que entre 2016 e 2017 também foi registrada uma diminuição na relação entre a renda média dos 40% mais pobres e a renda média total. Entre 2002 e 2015, a renda média dos 40% mais pobres subiu ano a ano em relação à renda média total, indo de 22% para 28% no período. Em 2016 e 2017 a relação da renda média dos 40% mais pobres com a renda média total voltou a declinar, para 25% e 24%.

O aumento da quantidade de brasileiros em situação de pobreza foi um dos resultados da interrupção na queda da desigualdade. Entre 2016 e 2017 o contingente de pobres aumentou para 55 milhões de pessoas, ou 26,5% da população. Em 2016 a proporção era de 25,7%.

A manutenção do quadro de desigualdade extrema ratifica que as políticas públicas imprimidas pelos diferentes governos não foram suficientes para superar o enorme desafio. É o que dizem estudos como a tese de Pedro Herculano Guimarães Ferreira de Souza (aqui), para obtenção de título de doutor pela Universidade de Brasília (UnB), mostrando que entre 1926 e 2013 o 1% mais rico da população brasileira somou entre 20% e 25% da renda nacional em média.

O estudo revelou que a concentração no topo “teve idas e vindas que, mesmo temporárias, foram significativas, coincidindo com os grandes ciclos políticos do país”. Os períodos de maior concentração de renda pelo 1% mais rico, segundo Pedro Herculano Guimarães Ferreira de Souza, coincidiram com os regimes mais autoritários: o Estado Novo (1937-1945) de Getúlio Vargas e a ditadura militar de 1964-1984. Nos anos de 1942-43, 1988 e 1998 foram registradas as maiores proporções de concentração de renda pelo 1% mais rico: cerca de 30%. Os anos de 1960 e 1962 foram aqueles de menor concentração pelo 1% mais rico: cerca de 18%.

(1º artigo da série DDHH Já, sobre os 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos no cenário brasileiro. No 1º dia do mês de janeiro de 2019, o artigo corresponde ao Artigo 1: Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos)

 

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