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O terror como estratégia, segundo Alberto Dines
A mensagem que deu volta ao mundo, de solidariedade à revista francesa Charlie Hebdo

O terror como estratégia, segundo Alberto Dines

Um dos mais consagrados e respeitados jornalistas brasileiros, Alberto Dines naturalmente ficou chocado com o atentado à revista “Charlie Hebdo” que matou 12 pessoas, inclusive quatro cartunistas, na quarta-feira, dia 7 de janeiro, em Paris. E Dines considera que o atentado não é fortuito e nem está vinculado somente ao contexto de recrudescimento da intolerância em várias partes do mundo. Pelo contrário. Para o fundador e editor do Observatório da Imprensa, o fato obedece a uma estratégia clara, com objetivos políticos muito bem definidos, conforme destacou em entrevista exclusiva à Agência Social de Notícias.

“A intolerância sempre existiu, nunca cessou. A questão é que é preciso considerar o terrorismo como uma estratégia política”, afirma o jornalista. “O objetivo do terror é aterrorizar, é disseminar o terror, criar medo, com ganhos políticos”, destaca Dines, que cita o exemplo dos atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York.

Para ele, os atentados que inauguraram uma nova era nas relações internacionais “foram planejados para ter a maior repercussão possível do ponto de vista de marketing, atraindo a atenção de todos”. E não foi diferente desta vez, em que o alvo foi uma publicação conhecida, símbolo da liberdade de expressão na França.

Nesse sentido, Alberto Dines considera que o atentado não tem, efetivamente, uma conotação religiosa, mas sim um significado político, como parte das estratégias usadas pelo terror. O jornalista nota que a questão anti-islâmica, particularmente, está “muito quente, incandescente mesmo” na Europa. E um fato desse tipo contribui para a exacerbação dos ânimos.

“O terror trabalha com a dialética, com a possibilidade de multiplicação dos problemas, gerando uma situação em que possa ganhar o maior número de corações e mentes”, assinala. Ele se refere à provável reação islamofóbica após um episódio desses, o que de fato aconteceu em algumas partes da França e de outros países europeus.

Mas Alberto Dines ressalta a impressionante reação da opinião pública mundial, de repúdio ao atentado, de condenação do terror e de reafirmação da importância da liberdade de imprensa e expressão. “Houve uma mobilização admirável, com pessoas de lápis na mão, compartilhando mensagens tipo Je suis Charlie, e isso pode ter efeitos positivos em termos de combate à intolerância”, avalia o jornalista. Igualmente positiva, acrescenta Dines, foi a reação de organizações muçulmanas, condenando o episódio.

De qualquer modo, o mundo já é outro depois de quarta-feira, 7 de janeiro de 2015. A liberdade de imprensa e expressão está novamente na agenda global.

O carioca Alberto Dines foi editor do “Jornal do Brasil”, dirigiu o Grupo Abril em Portugal e a sucursal da “Folha de S.Paulo” no Rio de Janeiro, entre outras publicações. É autor de vários livros, como “Morte no Paraíso, a tragédia de Stefan Zweig”, levado ao cinema por Sylvio Back. É co-fundador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp e criador do Observatório da Imprensa, do qual é editor. (Por José Pedro Martins)

 

 

 

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