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Pesquisador da Unicamp alerta para caos social se seca perdurar: apagão é sintoma
Professor Dr.Antonio Carlos Zuffo, da Unicamp: segurança hídrica depende de novos reservatórios (Foto Adriano Rosa)

Pesquisador da Unicamp alerta para caos social se seca perdurar: apagão é sintoma

A continuidade da seca na região mais populosa e rica do país pode levar a um caos social, com impactos no setor produtivo, na saúde humana e em outras áreas. O alerta é do professor Dr.Antônio Carlos Zuffo, do Departamento de Recursos Hídricos da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp. Para ele, um dos efeitos da continuidade da seca pode ser a ocorrência de apagão no sistema elétrico. Nesta segunda-feira, 19 de janeiro, houve apagão em vários estados brasileiros.

“Sem chuvas, não há solução a curto prazo para a continuidade do abastecimento de água na Grande São Paulo”,  observa o professor Zuffo. Para ele, os reservatórios do Sistema Cantareira, que abastecem metade da Grande São Paulo, estarão completamente secos em março, se não houve chuvas que recomponham os reservatórios, situados na bacia do rio Piracicaba. Por isso, a seca também atinge diretamente a Região Metropolitana de Campinas (RMC), situada nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ). O Cantareira chegou a 5,8% nesta segunda-feira.

Um dos possíveis impactos da seca prolongada, avisa o especialista da Unicamp, seria a “suspensão das outorgas de água para atividades que não sejam de abastecimento humano”. A legislação brasileira prevê que a prioridade no uso da água é para o abastecimento humano e dessedentação animal.

Consequência direta seria a diminuição de água para o setor produtivo, “o que poderia levar a demissões, à falta de reposição de produtos e ao encarecimento de alimentos”, assinala o professor Zuffo. Ele considera que, diante deste cenário, seria prudente os gestores públicos já pensarem em medidas mais efetivas de contenção do consumo de água, evitando-se o completo esvaziamento dos reservatórios. “Se isso acontecer, demoraria mais tempo para a recomposição, e a situação social seria complicada”, observa.

O professor Zuffo entende que “a sociedade está acomodada, e quando acordar pode ser tarde demais”. O especialista avisa que deve estar ocorrendo o início de um período mais seco na Região Sudeste brasileira, assim como já havia sido registrado no início da década de 1950. “Em 1953 também houve seca no Sudeste e no Nordeste e enchentes na Amazônia, assim como seca na Califórnia e enchentes na Europa”, lembra o pesquisador, para quem os ciclos climáticos são essencialmente motivados pelas atividades solares.

A continuidade da seca também pode levar a interrupções na transmissão de energia, acrescenta o professor Zuffo, lembrando que a maior parte da eletricidade no Brasil é gerada por fontes hídricas. Atualmente, com a seca, a maior parte dos reservatórios de hidrelétricas está com baixo volume. O fornecimento de energia tem sido garantido por termelétricas, “que não conseguem funcionar o tempo todo”, lembra o especialista da Unicamp. Nesta segunda-feira, aconteceu apagão em vários estados. As concessionárias alegaram que cortaram parte da energia distribuída por determinação do Operador Nacional do Sistema (ONS).

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