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Para arquiteto, Campinas está perdendo a identidade

Para arquiteto, Campinas está perdendo a identidade

A proteção, a preservação e o restauro do patrimônio histórico estão ligados diretamente ao exercício pleno da cidadania. Este é o ponto de partida, a matriz do pensamento do arquiteto e urbanista Ricardo Leite, quando aborda e destaca a importância estratégica do patrimônio histórico. O patrimônio como direito humano básico, em consonância com os principais tratados internacionais sobre o tema. O mais significativo deles, a Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, mais conhecida como Carta de Paris, aprovada na capital francesa em 21 de novembro de 1972, em Conferência Geral da Unesco, ressalta “a importância que constitui, para os povos do mundo, a salvaguarda destes bens únicos e insubstituíveis, independentemente do povo ao qual pertençam”.

Para que a relevância do patrimônio histórico fique evidente, e mobilize a comunidade, Ricardo Leite entende que deve ser feita uma leitura atenta da cidade, do sítio histórico onde este patrimônio está inserido. E nesse sentido o arquiteto tem a opinião de que, no caso de Campinas, a cidade “não está sendo entendida”. Ou seja, não estaria ocorrendo uma leitura atenta e exata do processo de transformação que a cidade vive há décadas. Processo que tem levado, adverte, ao “esgarçamento do tecido social da cidade”. Campinas, cidade fragmentada, complementa, “está perdendo a sua identidade”.

Estas posições foram defendidas por Ricardo Leite no último dia 13 de agosto, no debate sobre Patrimônio Histórico e Gastronomia, promovido pelo Movimento Vida no Centro de Campinas.  O evento foi realizado no auditório da Associação Comercial e Industrial de Campinas (ACIC). Foi o primeiro debate promovido pelo Movimento Vida no Centro de Campinas, que congrega várias organizações da sociedade civil e busca soluções para a melhoria da qualidade de vida na região central da cidade.

Ricardo Leite citou o projeto de restauro da Catedral Metropolitana de Campinas, sob sua coordenação, como exemplo dos desafios a serem superados para a efetiva proteção do patrimônio histórico e cultural na cidade. O restauro vem acontecendo em etapas. O projeto teve a participação, no início, do L´Habitat da PUC-Campinas.

A primeira etapa teve início em 2003, com a prioridade para a recuperação dos telhados e do forro da nave. A segunda etapa começou em 2005, mas aconteceram obstáculos na captação de recursos e as ações foram paralisadas. Em 2009 o projeto foi reformulado e reapresentado e, com o patrocínio obtido até o momento, está em curso o restauro da fachada da Igreja.

Em 2012, a Direção Cultura, responsável pela captação de recursos, conseguiu autorização do Ministério da Cultura para captar R$ 7,1 milhões para as obras. Entre 2013 e o começo de 2014, foram arrecadados R$ 2,8 milhões, com a participação dos bancos Bradesco, Itaú e Caixa Econômica Federal e as empresas de alimentação Ticket, Alelo, Sodexo e a empresa química FMC.

A própria ACIC, pelo seu ex-presidente, Guilherme Campos, e a atual presidente, Adriana Flosi,  tem participado ativamente da mobilização pela sensibilização de empresas interessadas em contribuir para a conclusão da segunda fase do restauro. Faltam R$ 4,3 milhões. Se não ocorrer a captação, o processo de restauro será novamente interrompido. Um processo de tombamento da Catedral como patrimônio nacional já está no IPHAN, tendo sido assinado por Adriana Flosi.

Diante de todos esses impasses, Ricardo Leite acredita que o próprio município pode avançar na discussão e institucionalização de recursos e caminhos para viabilizar a proteção do patrimônio histórico local, como o caso da Transferência do Potencial Construtivo, instrumento introduzido pelo Estatuto da Cidade, de 2011. Por esse instrumento, pode acontecer a transferência do potencial construtivo de uma área ou imóvel com restrições urbanísticas para outro espaço com capacidade de infraestrutura adensável. Essa transferência, segundo o Estatuto da Cidade, pode ser concedida pelo Poder Público através da Outorga Onerosa do Potencial Construtivo Adicional.

Existem, então, caminhos para assegurar a proteção efetiva do patrimônio histórico e cultural de uma cidade em rápida transformação como Campinas, acredita o arquiteto e urbanista. Ele diz que também “faltam bons projetos, com começo, meio e fim”. A restauração da Catedral, complementou, é um importante marco, pelo que representa esse patrimônio. “A Catedral foi o local mais visitado durante a Copa do Mundo e tem uma movimentação diária muito expressiva”, disse, acrescentando ser o ideal que, a partir da proteção e restauração de um patrimônio significativo como a Catedral, ocorra um efeito sinérgico beneficiando todo o espaço onde ele está inserido. “Será maravilhoso ver a Catedral com atividades culturais permanentes e, no seu entorno, novos negócios em gastronomia, por exemplo. É possível e necessário um circulo virtuoso”, afirmou.

A Catedral de Campinas demorou décadas para ser construída. As obras foram iniciadas em 1807 e concluídas somente em 1883.  Muitas de suas obras de arte levam a assinatura de nomes importantes (e ainda não devidamente valorizados) como Vitoriano dos Anjos e Bernardino de Sena Reis. A conclusão das obras teve a participação fundamental de Ramos de Azevedo, o arquiteto de família campineira que se tornaria um dos grandes nomes de sua área em todo país.

Catedral é ponto de referência na região central

Catedral é ponto de referência na região central

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