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Cúpula do Clima tem promessas renovadas e sociedade mobilizada
Rio Atibaia, em Campinas, manhã de 23 de setembro, terça-feira, no dia da Conferência de Cúpula do Clima em Nova York (Foto José Pedro Martins)

Cúpula do Clima tem promessas renovadas e sociedade mobilizada

Renovação de promessas por parte de governantes e empresários e disposição redobrada da sociedade civil para continuar a mobilização por mudanças rápidas e profundas no sistema produtivo, particularmente na área energética. Este o saldo da Conferência de Cúpula do Clima, realizada nesta terça-feira, 23 de setembro, na sede das Nações Unidas, em Nova York.

A Cúpula, que reuniu chefes de Estado e governo de vários países, foi antecedida por uma série de manifestações em todo mundo, promovidas por diversas organizações da sociedade civil. O propósito das ações era justamente mostrar aos governantes que a cidadania global está atenta e mobilizada, exigindo posições mais concretas e que de fato apontem para um novo modelo de desenvolvimento.

Esta era a atmosfera esperada pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ao convocar a Cúpula do Clima. O objetivo era dar mais força política às negociações pela redução da emissão de gases de efeito-estufa que estão acelerando as mudanças climáticas. As negociações vêm se arrastando há anos, enquanto a emissão de gases-estufa apenas cresce. A concentração de dióxido de carbono na atmosfera bateu recorde no ano passado, segundo a Organização Meteorológica Mundial. Haverá uma conferência climática no final do ano em Lima, no Peru, e outra no próximo ano em Paris, França, quando está prevista a finalização do acordo global do clima, a vigorar a partir de 2016.

Novas promessas –  Os representantes dos países ricos, responsáveis pela maior parte da emissão histórica dos gases que agravam as mudanças climáticas, reiteraram promessas na Cúpula de hoje em Nova York. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, falou como líder do segundo maior emissor de gases de efeito-estufa, atrás da China. Obama reconheceu que os EUA devem fazer mais, apesar dos esforços já executados em energias renováveis, particularmente em energia eólica e solar. É muito forte, no Congresso norteamericano, o lobby de grupos que não desejam modificações profundas no sistema energético – inclusive há grupos que nem reconhecem a interferência humana na aceleração das mudanças climáticas.

Entre outros líderes que se pronunciaram, o rei da Espanha, Felipe VI, reiterou o compromisso do país em ajudar a combater as mudanças climáticas. Uma das promessas mais destacadas foi anunciada pelo próprio Ban Ki-moon. Segundo ele, um grupo de instituições financeiras destinará US$ 200 bilhões para o combate às mudanças climáticas em 2015. O secretário-geral também informou que um grupo de países somando 400 milhões de pessoas assinará um pacto de redução anual de 16,4% nas emissões de gases-estufa.

Falando em nome do grupo dos 77 + China, o presidente da Bolívia, Evo Morales, fez um apelo aos países desenvolvidos, para que assumam a liderança do combate às mudanças climáticas. Ele fez a defesa do princípio das responsabilidades comuns mas diferenciadas, pelo qual todos países devem lutar para combater as mudanças climáticas, embora alguns – os países desenvolvidos, maiores emissoras – tenham maior responsabilidade no processo.

Sociedade civil – Manifestações em várias cidades, de diversos países, no domingo, 21 de setembro, expressaram o grito da cidadania planetária pela urgência de combate às mudanças climáticas com medidas mais efetivas e corajosas. Um grupo de dezenas de organizações da sociedade civil, de alcance nacional e internacional, divulgou por ocasião da Cúpula do Clima um documento espelhando a posição dos povos sobre o tema.

De acordo com o documento, o conjunto das nações, entre outras medidas, deve “adotar compromissos obrigatórios imediatos, não promessas voluntárias, para controlar o incremento da temperatura planetária a não mais de 1.5ºC [2,7ºF] durante este século através de reduções de emissões mundiais de gases de efeito-estufa que não superem 38 giga-toneladas no ano de 2020″.

As organizações também pedem a aceleração da transição para o uso de energias renováveis, como solar, eólica, geotérmica e mareomotriz, “sob propriedade e controle público e da comunidade”. Assinam o documento, entre outras, Alternatives International, ATTAC – France, Coordinadora Latinoamericana de Organizaciones del Campo – La Via Campesina (CLOC-LVC), Corporate Europe Observatory, Ecologistas en Acción, ETC Group, Fairwatch – Italy, Focus on the Global South, Fundación Solón – Bolívia, Global Campaign to Dismantle Corporate Power and end TNCs’ impunity, Global Forest Coalition, Grassroots Global Justice Alliance, Health of Mother Earth Foundation (HOMEF) – Nigeria, Indigenous Environmental Network, La Via Campesina, Migrants Rights International, No-REDD Africa Network, OilWatch International, Polaris Institute – Canada,  SENTRO – Philippines, Thai Climate Justice Working Group (TCJ) e Transnational Institute. Pelo Brasil, assinaram Amigos da Terra Brasil – FoE Brazil, Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social, Grupo Carta de Belém, Rebrip e Sociedade Sinhá Laurinha – Slau.

Estas pedras ficam cobertas pela água no rio Atibaia, em Campinas: em setembro de 2014 são testemunhas de eventos climáticos extremos (Foto José Pedro Martins)

Estas pedras ficam cobertas pela água no rio Atibaia, em Campinas: em setembro de 2014 são testemunhas de eventos climáticos extremos (Foto José Pedro Martins)

 

 

Sobre José Pedro Soares Martins

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