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Região de Campinas lembra Dia Mundial da Água longe da segurança hídrica
Cantareira quase secou em 2014, afetando Grande São Paulo e região de Campinas (Foto Adriano Rosa)

Região de Campinas lembra Dia Mundial da Água longe da segurança hídrica

No Dia Mundial da Água, que será lembrado nesta terça-feira, 22 de março, a Região Metropolitana de Campinas (RMC) continuará longe da segurança hídrica. Depois de um período de forte estiagem, que atingiu grande parte do país entre 2014 e 2015, a RMC voltou a conviver com enchentes e altas vazões de seus rios nos últimos dias. Este novo panorama não representa, entretanto, garantia de que a região não terá novos problemas nos próximos meses, em que historicamente cai o volume de chuvas. Os projetos de novas barragens na região ainda não saíram do papel, permanecem os desafios para o tratamento de esgotos urbanos (com exceção do município de Campinas, próximo de chegar a 100% de capacidade de tratamento) e continua o impasse sobre a renovação da outorga do Sistema Cantareira, adiado para 2017.

Disponibilidade histórica baixa – A disponibilidade hídrica nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), onde está localizada a RMC, é de 298,79 metros cúbicos por habitante/ano durante o período de estiagem, como revelou estudo do Consórcio Intermunicipal das Bacias PCJ. Trata-se de uma disponibilidade de água equivalente à do Oriente Médio, que é de 292 m3/habitante/ano, segundo um relatório de 2015 das Nações Unidas. A dúvida é se esta disponibilidade histórica será mantida durante o período de estiagem em 2016, ou se as chuvas serão superiores à média histórica, como ocorreu durante o Verão.

Rio Jaguari, nas proximidades do local para onde está projetada uma das barragens em discussão para bacia do rio Piracicaba (Foto Adriano Rosa)

Rio Jaguari, nas proximidades do local para onde está projetada uma das barragens em discussão para bacia do rio Piracicaba (Foto Adriano Rosa)

Barragens de Amparo e Pedreira – Um caminho para o aumento da disponibilidade hídrica na RMC e em todo conjunto das bacias PCJ é a construção de barragens para armazenar a água das chuvas durante o Verão. Está em curso o polêmico projeto de construção dos reservatórios de Amparo e Pedreira, que segundo o governador Geraldo Alckmin terão obras iniciadas em 2016 e com conclusão prevista para 2019. O custo das obras dos reservatórios e do sistema adutor, para transportar a água até 20 municípios, está estimado em mais de R$ 1 bilhão. O objetivo oficial é de proporcionar uma “reserva estratégica” de água para as bacias PCJ. Portanto, apenas em três anos, no mínimo, haveria um novo grande espaço de armazenamento na região. Também está em andamento o projeto de construção de um grande reservatório de água em Campinas, ainda sem definição do local e do prazo de conclusão.

Tratamento de esgoto – Outras obras necessárias para aprimorar a segurança hídrica na RMC e no conjunto das bacias PCJ são as de estações de tratamento de esgotos e respectivos sistemas. O município de Campinas, o mais populoso da região metropolitana e das bacias, está próximo de alcançar 100% de capacidade de tratamento, mas ainda falta avançar em outros municípios.

Durante mais de um ano e meio o Cantareira operou com a exploração do seu Volume Morto: renovação da outorga apenas em 2017 (Foto Adriano Rosa)

Durante mais de um ano e meio o Cantareira operou com a exploração do seu Volume Morto: renovação da outorga apenas em 2017 (Foto Adriano Rosa)

Renovação da outorga do Cantareira – A segurança hídrica na RMC e nas bacias PCJ também depende do equacionamento da renovação da outorga dada à Sabesp para gerenciar o Sistema Cantareira, que retira águas da bacia do Piracicaba para abastecer cerca de metade da Grande São Paulo. Historicamente as bacias PCJ têm sido prejudicadas, porque o Cantareira libera volume muito menor de águas para essa região. A renovação da outorga aconteceria no final de 2014, mas foi adiada em função da crise hídrica e agora ela acontecerá apenas no primeiro semestre de 2017. A expectativa é em relação a qual volume de água o Cantareira passará a reservar para o conjunto das bacias PCJ.

Recuperação das nascentes – Outro ingrediente essencial para a segurança hídrica na RMC e bacias PCJ é a proteção e recuperação das nascentes. Entre 80 e 90% das nascentes de água na RMC apresentam algum grau de degradação e sua recuperação é urgente, como forma de contribuir para a segurança hídrica regional. A advertência foi feita no último dia 28 de agosto, no I Encontro dos Produtores Rurais de Campinas e Região, pelo pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), Rinaldo de Oliveira Calheiros, como informou a Agência Social de Notícias (aqui). Ele coordena o projeto de recuperação de nascentes da RMC, iniciado no final de 2014, um dos anos mais secos da história na região, com a capacitação de técnicos de órgãos públicos dos 20 municípios da região. Após a capacitação, as Prefeituras iniciaram um levantamento do estado das nascentes nos respectivos municípios.

Eventos extremos – Se ainda existe uma longa trajetória até a segurança hídrica na RMC e conjunto das bacias PCJ, também está colocado o dilema sobre como a região vai se adaptar para os eventos extremos, seja em termos de escassez como de excesso de água. As últimas chuvas de março provocaram enchentes e inundações em várias cidades da região, que necessita, então, de aprimoramento da preparação para os eventos extremos, que tendem a se multiplicar com as mudanças climáticas globais. Muitos desafios, que devem ser tratados de forma coletiva, com ampla participação social. (Por José Pedro Martins)

Distrito de Sousas, em Campinas, voltou a sofrer com alagamentos depois de muito tempo: desafio para a região se preparar melhorar para eventos extremos  (Foto Adriano Rosa)

Distrito de Sousas, em Campinas, voltou a sofrer com alagamentos depois de muito tempo: desafio para a região se preparar melhorar para eventos extremos (Foto Adriano Rosa)

  

 

 

 

 

 

 

 

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