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Mais de 80% das nascentes na região de Campinas estão degradadas e técnicos pedem ação urgente
Encontro reúne produtores rurais e técnicos de mais de 45 municípios (Foto José Pedro Martins)

Mais de 80% das nascentes na região de Campinas estão degradadas e técnicos pedem ação urgente

Entre 80 e 90% das nascentes de água na Região Metropolitana de Campinas (RMC) apresentam algum grau de degradação e sua recuperação é urgente, como forma de contribuir para a segurança hídrica regional. A advertência foi feita na manhã desta sexta-feira, 28 de agosto, no I Encontro dos Produtores Rurais de Campinas e Região, pelo pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), Rinaldo de Oliveira Calheiros. Realizado nos últimos dois dias no Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), o Encontro reúne mais de 300 participantes, entre produtores rurais, técnicos e gestores públicos de 45 municípios da Região Administrativa de Campinas.

O alerta do pesquisador do IAC foi feito na manhã desta sexta-feira, na Mesa sobre “Gestão Hídrica e Formas Eficientes de Conservação e Uso da Água”. A crise hídrica afetou dos últimos dois anos tem afetado muitas culturas e muitos produtores na Região Administrativa de Campinas. Rinaldo Calheiros destacou a importância da proteção e recuperação de nascentes, como forma de colaborar para a segurança hídrica dos produtores rurais e população em geral.

Calheiros coordena o projeto de recuperação de nascentes da Região Metropolitana de Campinas (RMC). O projeto começou no final de 2014, um dos anos mais secos da história na região, com a capacitação de técnicos de órgãos públicos dos 20 municípios da RMC. Após a capacitação, as Prefeituras iniciaram um levantamento do estado das nascentes nos respectivos municípios.

O levantamento foi concluído recentemente por 18 municípios e o resultado é alarmante.  “Entre 80 e 90% das nascentes apresentam algum grau de degradação”, informou Rinaldo Calheiros. O resultado regional confirma o diagnóstico que tinha sido feito pela Prefeitura de Campinas, como parte da preparação para a implantação do Programa de Pagamento por Serviços Ambientais.

De acordo com o diagnóstico, feito pela Secretaria Municipal do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, o município de Campinas tem 2.500 nascentes de água, representando mais de 12 mil hectares de mata ciliar, e mais de 80% estão degradadas. Trata-se de um território de 8.726 hectares de mata ciliar degradados, equivalentes a 8.726 campos de futebol.

Segundo Rinaldo Calheiros, com base no diagnóstico regional, está sendo elaborado um projeto de recuperação de nascentes, que vai elencar prioridades, metas e ações, de modo que sejam buscados os recursos necessários à sua implementação. O pesquisador do IAC observa que “existe o arcabouço técnico e científico, mas é preciso partir do discurso para a ação”.

Calheiros não tem dúvidas de que, se faltar água na região, com um eventual acirramento da crise hídrica, a RMC pode virar “uma grande Itu”. Ele se refere à grande mobilização popular na cidade de Itu, em 2014, quando faltou água por vários dias para abastecer a cidade. Daí a urgência de uma série de ações, incluindo a recuperação de nascentes, em benefício dos próprios agricultores que precisam da água e de toda a população.

Na mesma Mesa sobre a questão hídrica, no I Encontro dos Produtores Rurais de Campinas e Região, Regina Célia de Matos Pires, também pesquisadora do IAC, falou sobre Sistemas e usos de irrigação eficientes. A irrigação é muito usada na agricultura brasileira e o uso eficiente é fundamental. Segundo dados já consagrados pela literatura internacional, o setor agrícola consome mais de 70% da água doce, como média mundial.

No conjunto das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), onde está a região de Campinas, o panorama é oposto. O setor agrícola consome 7 metros cúbicos, ou 7 mil litros de água por segundo nos 64 municípios das bacias PCJ, contra o consumo de cerca de 20 metros cúbicos por segundo pelo setor urbano e mais de 11 metros cúbicos por segundo pelo setor industrial.  Os dados são do Plano de Bacias PCJ 2010-2020. (Por José Pedro Martins)

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