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Orquestra Sinfônica de Poços de Caldas abre temporada com Sinfonia das Águas dia 2 de abril
Orquestra Sinfônica de Poços retoma apresentações da Sinfonia das Águas (Foto Walter Caparrós Blanco/Divulgação)

Orquestra Sinfônica de Poços de Caldas abre temporada com Sinfonia das Águas dia 2 de abril

Localizada na transição do Cerrado e da Mata Atlântica,  a cidade do Sul de Minas alcançou projeção nacional e internacional por suas águas termais, riqueza mineral e diversidade de atrações turísticas e culturais. Pois a celebração dos recursos naturais é um dos objetivos da Sinfonia das Águas, iniciativa da Orquestra Sinfônica de Poços de Caldas e que será apresentada na abertura da temporada de 2016 no dia 2 de abril, sábado, às 20h30, no espaço em frente ao Palace Casino, um dos mais tradicionais endereços locais. A regência é do performático maestro Agenor Ribeiro Netto, que já foi comparado ao regente e violinista holandês André Rieu.

A Sinfonia das Águas já é apresentada há uma década pela Orquestra Sinfônica de Poços de Caldas, que completa 25 anos de atividades em 2016. É um espetáculo multimídia, já visto por 350 mil pessoas em 57 edições e que contempla um repertório diversificado, incluindo óperas, grandes compositores do século XX, temas de filmes, vencedores dos grandes festivais de MPB e música italiana.

Entre as novidades na apresentação do dia 2 de abril estará o trio latino-americano La Negra Luz, composto pela cantora brasileira Tatiana Ferraz, o cantor chileno Pepe Salazar e o argentino Jara Arraes. Na ocasião, eles interpretam grandes sucessos como o clássico chileno Gracias a la Vida, composto por Violeta Parras e imortalizado na voz de  Mercedes Sosa.

Também haverá a apresentação inédita de uma cena teatral. Parte do espetáculo “PRH-3, a rádio retrô”, criado por Willian de Oliveira e Zé Alexandre, em conjunto com o músico Alexandre de Almeida, será encenada no palco da Sinfonia. Entre canções de uma emissora considerada “brega”, entremeadas por textos hilários do locutor e por comerciais da época, a encenação promete divertir e encantar o público, estimado em mais de 3 mil pessoas.

Com mais de 250 profissionais envolvidos – entre músicos, maestros, cantores,  contrarregras, atores, figurantes e equipe de apoio -, a temporada 2016 da Sinfonia das Águas ainda promete um espetáculo totalmente renovado. Com repertório inédito, o espetáculo conta com a presença de grandes intérpretes, como Lucas Cozzani, Jô Martucci, o tenor Irailton Cunha e  a cantora Bruna Moraes, considerada a maior revelação da MPB em 2015, que surgirão no cenário formado pelas sacadas e janelas do Palace Casino, iluminadas por 240.000 watts de luz e efeitos especiais.

Ainda este ano, a Sinfonia das Águas será apresentada em outras três datas: 11 de junho, 6 de agosto e 24 de setembro. Convites e reservas pelo telefone (35) 3712-6631, de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 17h.

Maestro Agenor Ribeiro Netto, da Orquestra Sinfônica de Poços de Caldas (Foto Walter Caparrós Blanco/Divulgação)

Maestro Agenor Ribeiro Netto, da Orquestra Sinfônica de Poços de Caldas (Foto Walter Caparrós Blanco/Divulgação)

POLÍTICA, CULTURA, FUTEBOL: POÇOS DE CALDAS TEM MUITA HISTÓRIA

Com 25 anos de atividades, a Orquestra Sinfônica de Poços de Caldas é mais uma atração na rica história política, cultural e social da cidade, que começou a se projetar no imaginário coletivo pelas suas águas termais, desde o final do século 19. Na esteira dos balneários, vieram os hotéis e cassinos, que duraram enquanto a atividade foi permitida no Brasil.

O Palace Casino e o Palace Hotel são importantes referências nesse sentido e que também passaram a ser sinônimo de intensas atividades políticas. Getúlio Vargas tinha uma suíte no hotel, decorada com motivos inspirados no Palácio do Catete. Juscelino Kubitscheck era outra presença constante, assim como Rui Barbosa, Santos Dumont, Olavo Bilac, Carmen Miranda e Silvio Caldas.

O declínio do turismo em Poços de Caldas ocorreu a partir da proibição do jogo no Brasil, em 1946, pelo Decreto-Lei 9.215, assinado pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, segundo alguns por influência da mulher, Carmela Leite Dutra, a Dona Santinha, católica fervorosa. De qualquer modo, prosseguiu o charme da cidade cercada de serras por todos os lados – Serra de São Domingos ao Norte, Serras do Gavião e do Caracol ao Sul, Serra do Selado e Serrote do Maranhão a Leste, e Serra de Poços de Caldas a Oeste. Nas últimas décadas, o turismo voltou a ser forte gerador de emprego e renda em Poços, por uma série de ações como a Flipoços, Feira Nacional do Livro, Julho Fest, Festival de Música nas Montanhas, Jazz & Blues Festival e a própria criação da Orquestra Sinfônica.

Antônio Cândido e os anarquistas – Outros grandes nomes da cultura brasileira tiveram ligação mais direta com Poços de Caldas. Caso de Antônio Cândido, que nasceu no Rio de Janeiro, a 24 de julho de 1918 e, de família mineira, viveu a infância em Poços, onde teve sua formação antes de se transferir para São Paulo, para prosseguir os estudos e onde se consagrou como grande educador e ensaísta.

Entre outros títulos importantes, escreveu “Os Parceiros do Rio Bonito”, obra-prima da sociologia brasileira, “Formação da Literatura Brasileira”, “O discurso e a cidade” e “Educação pela noite”. Recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Unicamp, entre outros reconhecimentos no Brasil e exterior.

São recorrentes, nas entrevistas que concede e em artigos que escreve, as referências de Antônio Cândido aos ideais anarquistas com quem conviveu, em Poços de Caldas, onde imigrantes italianos e outros europeus estabeleceram um núcleo anarquista de relevo. Ele cita com especial carinho o pensamento de Teresina Carini Rocchi (1863-1951), imigrante italiana que chegou ao Brasil em 1890 e, depois de viver em São Paulo, se estabeleceu em Poços de Caldas.

Essa ligação resultou no livro de Cândido, “Teresina e seus amigos” (Editora Paz e Terra, 1996) Teresina conviveu com alguns dos mais importantes nomes do anarquismo brasileiro do começo do século 20, como Antonio Piccarolo, Edmondo Rossoni, Alceste de Ambris e Alcibíade Bertolotti, um dos fundadores e dos principais redatores do jornal “Avanti!”, uma das mais importantes publicações do movimento operário do período.

Outro amigo de Teresina, e igualmente estabelecido em Poços de Caldas, era Adelino Tavares de Pinho, nascido no norte de Portugal, um dos fundadores da Escola Moderna n° 1 em São Paulo, e ainda da Escola Moderna n° 2, antes de, em função da forte repressão policial desencadeada contra os anarquistas na época, ter se refugiado no Sul de Minas, estabelecendo-se em Poços de Caldas, a partir de 1919.

Deve ser igualmente lembrado o nome de Bruno Fosco Pardini, hoteleiro e jornalista nascido na Itália, tendo sido editor, em 1916, de “A voz do trabalhador”. Pardini foi um dos fundadores e presidente (em 1926, primeira vez, e 1954, última) da Associação Atlética Caldense. Muitos nomes, assim, da relevante galeria de anarquistas do Sul de Minas, com ênfase em Poços de Caldas.

Futebol – Poços de Caldas também é um território importante para a história do futebol no Brasil, sobretudo pela trajetória da Associação Atlética Caldense. O clube foi fundado a 16 de novembro de 1925, por amantes do futebol originários de clubes fundados anteriormente, como o Foot-Ball Club Caldense, criado em 1904, o que o tornaria, se ainda estivesse em atividade, um dos mais antigos do Brasil. Remanescentes de outro clube criado no começo do século, o Internacional Futebol Clube, contribuíram para a fundação da Caldense.

Entre outras estrelas que jogaram na Caldense estão Odilon Domingues Júnior, o Zito, que jogou no time entre 1936 e 37, antes de se destacar por equipes como a Portuguesa de Desportos e Atlético Mineiro, e Mauro Ramos, que se destacaria depois no São Paulo até se tornar campeão mundial pelo Brasil em 1958, apesar de ter ficado entre os reservas. Já no Santos, seria o capitão da equipe bi-campeã mundial, em 1962, no Chile.

Mais recentemente, jogaram na Caldense: Ailton Lira (depois Santos e São Paulo, entre outros), Neto, (depois Santos), o zagueiro Buzuca e o goleiro Walter Tambaú (depois Palmeiras de São João da Boa Vista). Carlos Alberto Silva, que se tornaria o técnico do Guarani de Campinas, campeão brasileiro em 1978, se projetou exatamente com a Caldense no período. Outro Walter, o Casagrande Júnior, jogou na Caldense no começo da década de 1980. (Por José Pedro Martins)

Apresentações da Sinfonia das Águas sempre reúnem enorme plateia (Foto Walter Caparrós Blanco/Divulgação)

Apresentações da Sinfonia das Águas sempre reúnem enorme plateia (Foto Walter Caparrós Blanco/Divulgação)

 

 

 

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