Como muitos outros ex-trabalhadores em plantas que usam amianto em seu processo produtivo, Herbert Fruehauf apenas descobriu que tinha adquirido uma doença no pulmão tempos depois de deixar a empresa. Neste sábado, 8 de outubro, Fruehauf e dezenas de outros ex-empregados participam, em Campinas, do Encontro Nacional de Familiares e Vítimas do Amianto. Justiça e visibilidade são as demandas desses trabalhadores, muitos deles presentes no Seminário Internacional sobre Amianto: uma abordagem sócio-jurídica, realizado nos últimos dias 6 e 7, também em Campinas.
O paranaense Herbert, morador em São José dos Pinhais, é um caso típico do drama vivido pelos expostos ao amianto. Ele somente soube que estava doente ao fazer um exame admissional para uma empresa na Região Metropolitana de Curitiba. Ele havia trabalhado antes, por cinco anos, em uma planta que fabrica telha usando amianto. Foi demitido e, ao fazer os exames médicos para o sonhado novo trabalho, soube que tinha placas pleurais com espessamento.
Também ficou pouco tempo no novo emprego e foi aí que percebeu que “tinha algo muito errado”. Ainda não tinha informações sobre os riscos do amianto e percebeu que em seu estado não havia uma entidade que cuidasse das vítimas da fibra, já proibida em cerca de 70 países. Foi a origem da Associação Paranaense dos Expostos ao Amianto (APREA), que se tornou uma das mais ativas do país.
“Não tínhamos informação, atendimento médico, nada. Começamos do zero”, afirma Herbert, que buscou os cuidados de especialistas paulistas e fundou a APREA depois que conheceu a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA), criada a partir da luta dos ex-empregados da Eternit em Osasco, na Grande São Paulo.
“É preciso melhorar muito o atendimento na saúde pública, onde ainda há pouca informação sobre os impactos do amianto”, diz Herbert, ratificando uma das conclusões do Seminário Internacional realizado em Campinas, a de que é fundamental a construção de um protocolo de atendimento para esses casos no Sistema Único de Saúde (SUS).
O fundador da APEA buscou na Justiça uma indenização e hoje muitos outros ex-empregados em plantas que usam amianto estão no mesmo roteiro. Além da justiça, Herbert Fruehauf diz que os expostos ao amianto lutam pela visibilidade de sua causa.
“Durante muito tempo vivemos o que é chamado de silêncio epidemiológico. Estamos começando a sair dessas sombras, nossa luta já é reconhecida e envolve muita gente, como mostrou esse Seminário em Campinas. Mas ainda é preciso caminhar muito”, diz ele, pouco antes do Encontro Nacional de Familiares e Vítimas do Amianto, mais um passo na trajetória de milhares de trabalhadores e familiares que passaram a comungar dos mesmos objetivos, em várias partes do país. (Por José Pedro Martins)