O Brasil pode se tornar o primeiro país a liberar comercialmente o eucalipto geneticamente modificado a partir desta quinta-feira, 5 de fevereiro, quando o tema será discutido em reunião da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), em Brasília. A liberação comercial do eucalipto transgênico é reivindicada pela FuturaGene, empresa do grupo Suzano Papel e Celulose S.A, com a justificativa de que ele aumentaria a produtividade, diminuiria o tempo de colheita em um ano e meio e poderia gerar mais empregos.
A Suzano Papel e Celulose S.A é a segunda maior produtora de celulose de eucalipto do mundo. De acordo com a FuturaGene, o eucalipto geneticamente modificado teria um tempo de maturação de cinco anos e meio, em comparação com os sete anos que o eucalipto convencional demora para atingir o ponto de colheita. Ainda segundo a empresa, o eucalipto transgênico representaria 185 milhões de metros cúbicos anuais de madeira produzida em 5,1 milhões de hectares de terra, contra 159 milhões m3/ano do eucalipto convencional, o que significa um aumento de 15%.
Do mesmo modo, a FuturaGene afirma que o eucalipto geneticamente modificado poderia capturar 270 toneladas de dióxido de carbono por hectare por ciclo de sete anos, em comparação com 240 toneladas de CO2 por hectare por ciclo de sete anos do eucalipto convencional. A lucratividade seria de R$ 900,0o por hectare/ano no caso do eucalipto transgênico, contra R$ 700,00 por hectare/ano do eucalipto tradicional.
“Pequenos produtores terão livre acesso à tecnologia”, afirma a empresa em seu site na Internet. E ainda segundo a empresa, em termos de competitividade do setor florestal, o custo de produção do eucalipto geneticamente modificado seria de US$ 35,00 por metro cúbico, contra US$ 46,00 por m3 do eucalipto tradicional.
Em setembro de 2014, a CTNBio promoveu uma audiência pública sobre a proposta de liberação do eucalipto geneticamente modificado. Participaram representantes da própria CTNBio, da empresa e de organizações não-governamentais, como a Greenpeace e Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel).
Riscos – A Abemel se posicionou na audiência pública de forma contrária à liberação do eucalipto geneticamente modificado. O eucalipto, explica a secretária-executiva da Abemel, Joelma Lambertucci Brito, é muito atrativo para as abelhas no processo de fabricação do mel. Em Minas Gerais, por exemplo, 80% do mel produzido são derivados de plantações de eucalipto. O temor, segundo ela, é o de que ocorra uma contaminação cruzada no processo de polinização. “O setor já enfrenta problemas de contaminação com outras culturas geneticamente modificadas que não são melíferas. O risco com certeza aumento no caso do eucalipto, que é altamente melífero”, afirma.
Essa possibilidade de contaminação, complementa Joelma, poderia repercutir na exportação do mel brasileiro, especialmente para Europa, grande consumidor do produto brasileiro e onde existe forte resistência a produtos geneticamente modificados. Hoje 80% do mel nacional exportado são orgânicos. O problema não existiria, acrescenta ela, se a Europa também liberasse o eucalipto geneticamente modificado e, igualmente, se a espécie fosse validada pelas certificadoras de produtos orgânicos. “Nós reivindicamos então que a liberação do eucalipto geneticamente modificado não aconteça, até que ocorra a liberação também na Europa e que haja a validação pelas certificadoras orgânicas, pois do contrário o setor de exportação do mel pode ser muito afetado”, ela conclui.
Outras liberações – A reunião da CTNBio nesta quinta-feira também discute a liberação de outros organismos geneticamente modificados. Casos de soja e milho geneticamente modificados, por solicitação de várias empresas.