As formas de combate ao Aedes aegypti estão se mostrando ineficientes e para vencer a guerra contra o mosquito é fundamental resolver questões de infraestrutura e saneamento no país. A advertência é da pesquisadora Clarice Arns, coordenadora da Rede Zika Unicamp, em entrevista exclusiva à Agência Social de Notícias. A pesquisadora do Instituto de Biologia da Unicamp afirmou que é essencial ampliar as pesquisas sobre o Zika Vírus, de modo a se entender a sua biologia, “se ele está passando por uma mutação ou não”.
“Não é possível passar produtos a toda hora e os mosquitos estão aparecendo em um volume cada vez maior”, destacou a pesquisadora, citando a prática do uso de produtos químicos para combater o Aedes aegypti. É essencial então, para vitória da guerra contra o mosquito, melhorar muito as condições de infraestrutura e saneamento no Brasil, reiterou. (Mais sobre importância do saneamento no combate ao Aedes aegypti, aqui, no artigo “Proliferação do Zika Vírus e dengue é fruto do atraso secular no saneamento no Brasil”, na ASN)
Ao lado do maior investimento em saneamento, Clarice Arns frisou a necessidade de aprofundamento das pesquisas sobre o Zika Vírus, que virou um caso de emergência mundial, conforme declarou a Organização Mundial da Saúde (OMS), no dia 1 de fevereiro. No Brasil, o surto de microcefalia, com foco principal em Pernambuco, e possivelmente associado ao Zika Vírus, levou à declaração pelo Ministério da Saúde do estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN), segundo a Portaria nº 1813, de 11 de novembro de 2015.
Para a pesquisadora, são cada vez fortes as evidências de associação do aumento de casos de microcefalia com o Zika Vírus, o que reforça a urgência de estudos mais completos sobre o vírus. Ela lembra que existem dois tipos de Zika Vírus, um de origem africana, considerado mais brando, e o de origem asiática, de consequências mais graves, sendo este o que está circulando no Brasil. “É preciso estudar muito esse vírus, saber porque ele está causando doenças. O que aconteceu com ele, houve uma mutação?”, indaga-se a coordenadora da Rede Zika Unicamp.
Rede Zika Unicamp – Justamente visando ampliar o conhecimento sobre o vírus é que a Unicamp criou a Rede Zika, envolvendo vários setores da Universidade. A Rede Zika Unicamp está trabalhando em cinco eixos de pesquisas, explicou Clarice Arns.
Um eixo de pesquisa, desenvolvido no Instituto Biológico (IB-Unicamp), tem como alvo o estudo do vírus em si. O estudo envolve passos como o diagnóstico e o isolamento do vírus e o seu sequenciamento, de modo que seja aprimorado o conhecimento sobre se ele tem sofrido ou não mutações.
Outro eixo de pesquisa, implementado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), está direcionado à busca de medicamentos que ajam contra o vírus. “São vários pesquisadores envolvidos, com muita experiência no setor”, comentou Clarice Arns.
Um terceiro eixo de estudos, no âmbito do próprio IB-Unicamp, está voltado para a busca de produtos como larvicidas ou repelentes contra o Aedes aegypti. O estudo abrange linhas de pesquisa com plantas e outros produtos naturais.
O desenvolvimento de vacinas está contemplado pelo quarto eixo de pesquisas, de acordo com a coordenadora da Rede Zika Unicamp. E o quinto eixo trata das questões de diagnóstico e epidemiologia, estando na esfera da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e Hospital de Clínicas.
Pesquisas nesses campos, ressaltou Clarice Arns, são demoradas porque exigem vários testes e comprovação. Mas ela entende que a ampliação do conhecimento é vital para que sejam melhor entendidos fatores que, ao lado do déficit histórico no saneamento, possam explicar a proliferação do Zika, da dengue e outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, em regiões onde estavam praticamente extintas ou eram quase desconhecidas.
A Unicamp integra, com a USP e Unesp, uma força-tarefa que também está trabalhando em pesquisas sobre o Zika Vírus e outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Nesta semana, a força-tarefa anunciou o desenvolvimento de um teste que permite a detecção e identificação, em cinco horas ou pouco mais, da presença de material genético do Zika, dengue e chikungunya em amostras de saliva, sangue ou urina de pessoas infectadas.