Por José Pedro Soares Martins
Campinas, 31 de maio de 2017
Monitoramento e avaliação da violência nas escolas públicas, análise da elaboração coletiva de Projeto Político Pedagógico também em escola pública, construção de protótipo em 3D para reconstrução facial. Pesquisas em benefício da sociedade brasileira, em vários segmentos de manifesta vulnerabilidade, estão avançando em diversas Universidades particulares. São projetos que confirmam a viabilidade do desenvolvimento científico e tecnológico não apenas em instituições públicas, mas também do setor privado, a exemplo do que ocorre em países da América do Norte e Europa.
Historicamente o maior investimento em pesquisas no Brasil é feito pelas Universidades públicas, onde a atividade está consolidada. Por esta razão, a grande parte dos reduzidos investimentos privados em pesquisa no país ainda se dirige às instituições públicas. Além disso, parcela importante dos projetos desenvolvidos nas instituições privadas ainda depende de bolsas e subsídios concedidos por agências governamentais, na medida em que as receitas das particulares continuam atreladas basicamente às mensalidades pagas pelos alunos.
Entretanto, há uma clara tendência de incremento do investimento próprio em pesquisa por parte das Universidades particulares. A titulação cada vez maior dos docentes em instituições privadas, como mestres ou doutores, é um ingrediente que contribui para o fortalecimento da pesquisa nas particulares.
“A função da universidade não é somente formar profissionais para se insiram no mercado de trabalho, vai muito além disso, na medida em que a sociedade, o Estado e o mercado exigem e esperam dela a produção de conhecimento científico e a formação de cientistas que possam alavancar o desenvolvimento científico e tecnológico do país”, lembra Adolfo Ignácio Calderón, professor titular do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). “Daí a exigência mínima de dois doutorados e quatro mestrados para qualquer instituição de educação superior que queira se credenciar como Universidade, independentemente de sua natureza jurídica, seja pública ou privada, com fins ou sem fins lucrativos”, ele acrescenta.
O professor Calderón recorda ter sido com a Reforma Universitária de 1968 que se implantou o modelo de universidade de pesquisa no Brasil, com foco predominante nas universidades estatais. O docente da PUC-Campinas ressalta que, no setor privado, essa tradição de pesquisa, embora com menor expressão, passou a ser acompanhada, ao longo das décadas de 1970 e 1980, pelas universidades confessionais, principalmente as pontifícias universidades católicas. “Lembremos que em 1968 havia somente 12 universidades privadas, das quais 11 eram de inspiração católica e uma universidade presbiteriana, a Mackenzie. Hoje verifica-se a existência de alguns centros de excelência, em diversas áreas do conhecimento, no qual o setor privado, seja com ou sem fins lucrativos, acabaram ganhando destaque, mas não há dúvida de que as universidades estatais são as que alavancam a pesquisa científica no Brasil”, ressalva o especialista.
A contribuição privada é fundamental, considerando a longa distância que o Brasil ainda precisa percorrer para ampliar os investimentos em ciência e tecnologia e, com isso, melhorar a produtividade e entrar de forma adequada na Quarta Revolução Industrial em curso. Quanto mais demorar para entrar nessa corrida, mais o país ficará distante do mundo cada vez mais complexo da inteligência artificial, Internet das coisas, biotecnologia e outros setores que já estão afetando a vida de todos.
Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano 2015, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Brasil, 75º no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), 79º no Relatório de 2016, investe 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento, índice muito distante dos 2,9% do PIB da Alemanha (sexto no ranking do IDH), 2,8% dos Estados Unidos (oitavo no ranking) e mais ainda dos 3,4% do PIB da Suécia (14º no ranking) e dos 4,0% do PIB da República da Coreia, 17º no ranking do IDH, elaborado pelo PNUD(íntegra do Relatório aqui).
UNIP, UNIMEP, UNISAL e PUC-Campinas são algumas das instituições de ensino superior privadas onde estão em implementação muitos projetos de pesquisa e desenvolvimento. A maior parte desses projetos recebe apoio de instituições públicas, como do Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino Particulares (PROSUP), da Fundação Capes, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) ou Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Somente em 2016, a Capes concedeu 5081 bolsas ou taxas de mestrado e 4393 bolsas ou taxas em nível de doutorado, no âmbito do PROSUP. Segundo a Fundação Capes, o PROSUP tem justamente o objetivo de apoiar alunos de Programas de Pós-Graduação stricto sensu oferecidos por instituições particulares de ensino superior, “contribuindo para a formação e manutenção de padrões de excelência e eficiência na formação de recursos humanos de alto nível, imprescindíveis ao desenvolvimento do país” (site da Capes aqui).
Técnica revolucionária – Uma das bolsas concedidas na esfera do PROSUP foi precisamente a que contribuiu para o desenvolvimento de uma revolucionária técnica de reconstituição facial, utilizando um simples smartphone e uma impressora em 3D, equipamento de uso crescentemente acessível e de baixo custo. A técnica foi desenvolvida a partir de um programa de reconstrução facial coordenado na Universidade Paulista (UNIP) pelo professor Luciano Dib.
Discípulo do sueco Per-Ingvar Branemark (1929-2014), considerado um dos maiores expoentes da reconstrução facial, precursor da implantodontia moderna, o Dr.Dib é um cirurgião dentista formado em 1984 pela Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto, que construiu sólida carreira nacional e internacional, tendo chegado à presidência da Sociedade Latino-Americana de Recuperação Facial. Foi nesta função que o professor da UNIP conheceu um peruano, Rodrigo Gamarra Salazar, a quem convidou para orientar sua tese de mestrado no Brasil.
Convite aceito, Dib e Salazar também contaram com o suporte da Universidade de Illinois, Chicago, e do Centro Tecnológico da Informação “Renato Archer” (CTI), de Campinas, para o avanço na técnica inovadora, de uso de smartphone e impressão em 3D para reconstituição facial. O CTI é um centro ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação que tem-se especializado na chamada tecnologia assistiva, área interdisciplinar envolvendo metodologias e recursos de apoio a pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.
“A tecnologia tridimensional, utilizada com o auxílio do computador, permite uma definição muito maior da prótese que será utilizada, em comparação com o modelo tradicional de confecção de próteses”, comenta o professor Dib. O tempo para a produção de uma prótese com a tecnologia digital é também muito menor, igualmente repercutindo em benefício para o paciente, destaca.
A técnica consiste na captura de imagens com smartphone de um paciente com deformidade facial, visando a identificação de sua anatomia. A partir de uma sequência de fotos, é desenhada uma prótese no formato 3D, com o uso dos softwares gratuitos 123D Catch e Meshmixer, da Autodesk. O modelo que reproduz a parte afetada do paciente é então impresso em 3D e encaminhado um designer, que vai desenvolver um protótipo provisório, utilizando-se resina ou plástico como matéria-prima. O protótipo é testado no paciente e recebe o acabamento visando a construção de uma escultura definitiva, respeitando-se itens como cor de pele e outros detalhes anatômicos.
Voluntários já se submeteram com sucesso à técnica, como Victorio Gorzoni. Atuou como parceiro o designer catarinense, residente em Sinop (MT), Cícero Moraes, um grande especialista na área. Um detalhe que acrescenta maior densidade tecnológica ao processo é o fato de que Cícero conversa on-line com o professor Dib e com o peruano Salazar.
“Juntamos peças tecnológicas que estavam soltas, nós não inventamos o smartphone ou a impressora 3D”, comenta Rodrigo Gamarra Salazar. “O que fizemos foi desenvolver um protocolo para o uso de ferramentas acessíveis, baratas, em benefício de pacientes com mutilação”, ele complementa.
Uma das maiores instituições privadas de ensino superior no Brasil, com 27 campi e 200 mil alunos, a UNIP tem arcado com as maiores cotas dos custos do programa coordenado pelo professor Dib. Ele salienta que o próximo passo, no âmbito do programa de doutorado que vem sendo executado pelo mesmo Rodrigo Gamarra Salazar, é a demonstração da viabilidade econômica da nova tecnologia de reconstrução facial. “Precisamos caminhar para uma impressora 3D que faça diretamente a prótese de silicone”, explica. O resultado final, espera, é de fato a democratização da tecnologia de reconstrução facial, com o uso de equipamentos muito mais baratos e acessíveis do que os empregados atualmente. “A tese vai considerar aspectos de tempo, custos, reprodutibilidade e comparação com outros métodos, ratificando o seu valor cientifico”, sintetiza Rodrigo Gamarra.
O impacto social da tecnologia em desenvolvimento na UNIP é incomensurável. As estimativas do Ministério da Saúde são de que 30 mil pessoas no Brasil demandam anualmente procedimentos de reconstituição facial. É o país líder em acidentes automobilísticos, que deixam inumeráveis sequelas, e também de altos índices de câncer de pele. A imensa maioria dos pacientes é de baixa renda, com pouquíssimos recursos para arcar com cirurgias e outras intervenções. O barateamento da técnica de reconstrução facial será um benefício em largo espectro para milhares de brasileiros.
Violência nas escolas – Também podem ser contados em escala dilatada os casos de violência registrados nas escolas brasileiras, públicas ou privadas. São diferentes modalidades de violência, algumas sutis e outras nem tanto. Homofobia, discriminação racial e social são algumas das faces desse problema que atingiu proporções epidêmicas e que está longe de ser equacionado com políticas públicas eficientes.
Uma janela de oportunidade, entretanto, foi aberta com a estruturação do Observatório de Violências nas Escolas, que funciona no campus de Lorena, interior de São Paulo, do Centro UNISAL. O Observatório nasceu em 2004, como fruto da parceria do Centro UNISAL com a Universidade Católica de Brasília (UCB) e a UNESCO-Brasil. A gênese do projeto está na linha de pesquisa que desde 1997 a UNESCO-Brasil incentiva, como parte de seu empenho por uma Cultura pela Paz, focando os temas juventude, violência, cidadania e vulnerabilidade social. O Observatório de Violências continua ligado à Cátedra UNESCO em Juventude, Educação e Sociedade (aqui).
Sob a coordenação da professora Sonia Maria Ferreira Koehler, o Observatório de Violências nas Escolas do Centro UNISAL (site aqui) passou então a funcionar, no campus de Lorena, mantendo um grupo de estudos e pesquisas, desenvolvendo programa de pesquisas incluindo a produção de artigos e monografias, oferecendo cursos e desenvolvendo atividades de extensão viabilizando a interação entre ensino e pesquisa. Sempre com uma perspectiva interdisciplinar, com Sociologia, Direito, Pedagogia e outras áreas, ressalta a professora Sonia Koehler, considerando que as violências “são multiculturais e multidisciplinares e assumem uma identidade própria, ainda que se manifestem por meio de expressões muitas vezes tratadas como corriqueiras: as agressões físicas e verbais, as incivilidades, os preconceitos, entre outras manifestações”. Trata-se, acrescenta, de um fenômeno complexo e multifacetado que ocorre em estabelecimentos específicos, o que justifica falar em “violências” e em “escolas” no plural. “Nossas pesquisas são aplicadas, em benefício direto da comunidade”, observa a professora Koehler.
Foram várias pesquisas já desenvolvidas pelo Observatório. A primeira foi sobre “A representação social da homofobia na cidade de Lorena” e abrangeu levantamentos anuais de dados, entre 2006 e 2011. O estudo investigou e acompanhou por mais de cinco anos a compreensão da população local sobre o fenômeno da homofobia e da homossexualidade. Nesse sentido foi uma pesquisa de perfil “survey longitudinal”.
Os participantes, representados por adolescentes, adultos e idosos com idade entre 16 e 88 anos, eram usuários da praça principal da cidade do interior de São Paulo. Até 2010 foram realizadas 2025 entrevistas, 946 do sexo masculino e 1079 do sexo feminino, com a utilização de questionário do tipo semiestruturado com questões abertas e fechadas. Os dados das questões abertas foram submetidos à metodologia segundo os princípios da análise de conteúdo. O propósito foi o estudo e o desenvolvimento de ações nas escolas de Lorena pela melhoria do convívio, da tolerância e respeito humano.
Foram várias as conclusões dessa pesquisa. Uma delas é a de que o professor “precisa ver-se enquanto um protagonista fundamental nas relações da Escola, enquanto sujeito capaz de intervir e transformar”, como escreveu a professora Sonia Koehler no artigo “A representação social da homofobia na cidade de Lorena/SP”, publicado na Revista “Diálogo Educacional”, de Curitiba, volume 9, número 28 (ver aqui). “Nossa postura exige mudança de cultura e de representações, mas não sejamos ingênuos quanto às dificuldades específicas quanto à violência sobre o homossexual e o sentimento homofóbico. Como já posto, historicamente a heterossexualidade é a norma”, ressaltou a articulista.
A pesquisa continua até hoje, lembra a professora Koehler. “As pessoas estão mudando a visão, e o interessante é que as pessoas mais jovens têm-se mostrado mais conservadoras”, diz a coordenadora do Observatório, ressaltando que os dados mais conclusivos, fruto de uma década de pesquisas, continuam sendo coligidos e analisados.
Outra pesquisa desenvolvida no âmbito do Observatório de Violências nas Escolas do Centro UNISAL de Lorena, entre 2015 e 2016, versou sobre “A gravidez na adolescência e a escola: capacitando professores”. Entre os seus objetivos estavam os de investigar as percepções de professores, gestores e orientadores pedagógicos acerca da gravidez, parentalidade e conjugalidade na adolescência e suas implicações, bem como sobre a educação sexual na escola, e também desenvolver materiais e apostilas educativas, com linguagem simples e acessível com objetivo de capacitar e instrumentalizar educadores da Rede Municipal de Ensino, aprimorando seus conhecimentos sobre a temática.
“Espera-se que por sua posição privilegiada o professor possa atuar como importante agente de promoção de ações que visem minimizar riscos frente à ocorrência de uma gestação na adolescência, bem como contribuir para sua prevenção”, escreveu a responsável pela pesquisa, a bolsista pelo CNPq Alessandra Maria Cardoso da Silva, que teve como orientadora a professora Joviane Marcondelli Dias Maia. “Os jovens têm informações, mas continuam agindo sem grandes precauções”, nota a professora Sonia Koehler.
Mensalmente o Observatório promove encontros abertos com a comunidade. “Sempre são temas polêmicos, agora estamos discutindo a questão das crianças que estão se cortando”, conclui a coordenadora do Observatório de Violências nas Escolas do Centro UNISAL de Lorena.
Núcleos de apoio à pesquisa em Universidades particulares – Ao lado de iniciativas das agências públicas, como o Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino Particulares (PROSUP), da Fundação Capes, as próprias Universidades privadas estão, de fato, constituindo núcleos internos de suporte à pesquisa e desenvolvimento, como sinal evidente da tendência de institucionalização da pesquisa nas instituições privadas. É o caso da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), que criou em 2015 o Escritório de Apoio à Pesquisa (EAP), vinculado à Coordenação de Pesquisa e Pós-Graduação.
O Escritório foi criado como uma instância de apoio aos docentes da UNIMEP nas atividades administrativas que envolvem projetos de pesquisas financiados pela Fapesp, CNPq e Capes, dentre outras agências de fomento. Além disso, sistematiza as contribuições do conhecimento produzido pelos professores e divulga editais e informações para potencializar a captação de recursos financeiros e qualificação da pesquisa desenvolvida na universidade. Mantém, também, uma linha de apoio à iniciação científica para alunos.
“A viabilização de financiamento à pesquisa envolve várias etapas, como a busca de editais, o preenchimento dos requisitos previstos nesses editais, outros aspectos burocráticos durante a vigência do projeto e depois a prestação de contas”, observa o coordenador de Pesquisa e Pós-Graduação da UNIMEP, professor Cesar Romero Amaral Vieira, destacando que o objetivo do EAP é justamente dar suporte aos docentes nessas situações.
O professor Cesar Vieira nota que as agências de fomento estabelecem critérios que devem ser cumpridos para que um pesquisador apresente um projeto. O pesquisador também pode se candidatar ao Fundo de Apoio à Pesquisa mantido pela própria UNIMEP. “O Fundo viabiliza pesquisas, dentro dos limites orçamentários”, assinala o coordenador.
Algumas pesquisas desenvolvidas na UNIMEP contaram com o apoio do EAP para sua viabilização. Foi o caso do projeto da professora Renata Cristina Barrichelo Cunha, com suporte do CNPq, sobre “A (re)elaboração do projeto político pedagógico na escola básica e o trabalho docente coletivo: entre determinações, tensões e resistências”. O projeto contemplou a compreensão e análise do processo de elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP) em uma escola da rede pública em Piracicaba, valorizando a gestão democrática e considerando as tensões presentes na (re)elaboração coletiva de um PPP, que é o documento reunindo o que a escola pensa e o que ela pretende em termos educacionais na comunidade onde atua.
Outro projeto que contou com a colaboração do Escritório de Apoio à Pesquisa da UNIMEP ainda está em andamento e recebe auxílio financeiro da Fapesp. É um projeto da área de Saúde, da professora Maria Silvia Mariani Pires de Campos, com um objetivo muito específico: “Estudo da eficácia da drenagem linfática manual na mobilização hidroeletrolítica e na variabilidade da frequência cardíaca em mulheres nas fases reprodutivas e perimenopáusica comparado com os mesmo parâmetros em homens”.
O compromisso da Universidade – O leque de temas abrangidos pelas pesquisas em Universidades particulares é amplo. São pesquisas básicas e outras aplicadas, de retorno imediato para a sociedade. Como salienta o coordenador de Pesquisa e Pós-Graduação da UNIMEP, Cesar Romero Amaral Vieira, o apoio a projetos científicos é essencial para que as instituições particulares de fato respeitem o tripé básico de uma Universidade, formado por Ensino, Pesquisa e Extensão. “Estes são os pilares da Universidade, ela cumpre sua função quando exerce os três de forma apropriada”, diz o coordenador.
O professor Luciano Dib, da UNIP, observa que o delicado momento econômico do Brasil, com reflexos naturais no fluxo de recursos públicos para pesquisa e desenvolvimento, valoriza ainda mais o esforço das Universidades particulares em investir em projetos científicos. “A Universidade particular não pode ser gerida apenas em função do retorno econômico, mas também pensando na produção de pesquisa e ações de extensão em benefício da sociedade”, sustenta ele. Dib diz que é professor há 29 anos na UNIP e um dos motivos pela permanência na instituição é precisamente o cuidado que ela demonstra com a qualidade do ensino ministrado, com as pesquisas implementadas e a ação social executada. “Na Universidade particular há um controle eficiente dos recursos, nesse sentido é uma luz no fim do túnel para a pesquisa no Brasil”, completa o coordenador de uma das pesquisas recentes, implementadas em instituição privada, de maior potencial de benefícios para a sociedade de um modo geral.
Alguns desafios para a pesquisa no setor privado são apontados pelo professor Adolfo Ignacio Calderón, da Pós-Graduação da PUC-Campinas. Ele é consultor da CAPES e da Fapesp e mantém contato diretamente com o sistema público de apoio a pesquisas no Brasil.
O professor Calderón entende que o maior desafio diz respeito às dificuldades existentes para a implantação de uma cultura científica voltada à prestação de serviços de base científica e inovação. “A criação dessa cultura científica exige, entre outros elementos, recursos humanos, com salários dignos e atrativos para profissionais altamente qualificados, de tal forma que possam se fixar, desenvolver núcleos de excelência com potencial de captar recursos públicos e privados. O problema maior para o setor privado radica no fato de que o financiamento desses profissionais advém das matrículas dos alunos de graduação, alunos que acabam pagando atividades das quais não usufruem diretamente. Daí as dificuldades das universidades privadas não conseguirem implantar de forma generalizada centros de excelência em termos científicos. Embora é evidente a existência de esforços e iniciativas inovadoras”, sublinha o professor de Pós-Graduação da PUC-Campinas. Muitos exemplos promissores ratificam a esperança de consolidação dessa cultura científica no setor privado, para o bem do desenvolvimento do Brasil e, sobretudo, dos setores mais vulneráveis da população.