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Os Azuis e Verdes, Todas as Cores de Noronha!

Os Azuis e Verdes, Todas as Cores de Noronha!

Há tempos longínquos, quando os gigantes ainda habitavam a terra, as leis eram severas e não se tolerava o adultério. Certa vez, um casal de gigantes foi flagrado cometendo esse crime e levado a julgamento. A sentença imposta foi a de cortar a genitália dele, o que formou o Pico e dela, as mamas, formando os Dois Irmãos. Assim nasciam dois cartões postais de Fernando de Noronha.

Lendas à parte, posso afirmar que o paraíso existe! Um arquipélago formado por 21 ilhas e ilhotas, com pouco mais de 17 Km² e uma população de 3 mil habitantes. Em 1988 foi declarado Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO e o trabalho de conservação da vida marinha é constante. Tudo na ilha gira em torno da preservação da natureza e da ecologia.

Barqueata de São Pedro (Foto Synnöve Hilkner)

Barqueata de São Pedro (Foto Synnöve Hilkner)

Chegar até esse destino requer alguma preparação. Além de voo e estadia, o visitante precisa pagar a taxa ambiental da ilha, por dia, além da taxa de ingresso no parque nacional marinho. As pousadas oferecem pouco conforto e os restaurantes cobram preços de Europa. Mas a visita vale cada centavo, pois é um lugar raro, diferente de qualquer outro já visto. O belo está na natureza.

O arquipélago surgiu há uns 12 milhões de anos, através de explosões vulcânicas e, devido a essa formação, não existe nenhuma nascente de água doce. A que existe, escassa, vem da coleta da água da chuva e da dessalinização da água do mar.

Morro Dois Irmãos na praia da Cacimba e Baía dos Porcos (Foto Synnöve Hilkner)

Morro Dois Irmãos na praia da Cacimba e Baía dos Porcos (Foto Synnöve Hilkner)

Conhecido principalmente por ser destino para mergulhadores, existem muitos outros passeios e atividades para os visitantes. Por seis dias, tive o privilégio de viver esse paraíso, fazer mergulho de superfície, com máscara e snorkel, passeio de barco, stand-up paddle, trilhas que levam às praias mais lindas do mundo, apreciar os diversos azuis e verdes, as cores da natureza. Uma pausa para recarregar as baterias, antes de voltar à civilização. Foram dias intensos, onde a única preocupação foi a de não se distrair ao sol, para não fritar.

Sobrevoando o arquipélago, ainda no avião, a primeira coisa que se vê é o morro do Pico, o ponto mais alto e que pode ser visto de qualquer ponto da ilha. Logo, a gente aprende a usá-lo como referência.

São João na Vila dos Remédios (Foto Synnöve Hilkner)

São João na Vila dos Remédios (Foto Synnöve Hilkner)

Alugamos um bugue para percorrer a ilha e vimos o pôr do sol no Boldró, ponto de reunião de visitantes e nativos, que batem palmas e celebram, todos os dias, o ponto vermelho que se forma no horizonte, quando o sol escaldante encosta nas águas verdes do mar e, em seguida, esconde-se. As pessoas então se levantam para ir embora e agradecem em voz alta o privilégio do momento compartilhado com os outros.

Os restaurantes oferecem diversos pratos que levam peixe, frutos do mar, camarão e lagosta. Porém, apenas o peixe é local e fresco. Os demais vêm do continente, pois sua pesca é proibida pelas leis ambientais. Tudo, desde comida a material de construção, vem de fora, sendo o transporte caro e é isso que encarece a vida no local.

O Morro do Pico na Praia de Conceição (Foto Synnöve Hilkner)

O Morro do Pico na Praia de Conceição (Foto Synnöve Hilkner)

O Bar do Cachorro é um dos mais antigos e tradicionais bares locais, lugar de encontro para um drinque, um petisco, música ao vivo e, mais tarde, o forró mais famoso da ilha. Em dias de jogo do Brasil, durante a copa, duas telas ficam ligadas para a torcida, animada, de locais e visitantes. Para chegar até esse bar, passamos pela Vila dos Remédios e sua história.

Oficialmente descoberta em 1503, Noronha recebeu diversos visitantes, franceses, holandeses e espanhóis, entre outros, até que Portugal resolvesse ocupar a ilha, nos anos de 1700. Por sua posição estratégica no caminho das navegações, foram construídos vários fortes, para proteção. Também foi utilizada como presídio, para onde foram mandados, desde criminosos perigosos, ciganos e órfãos, até presos políticos. As construções históricas, de paredes muito grossas, foram erguidas, em sua maioria, por esses presidiários. A partir de 1970, o presídio foi desativado de vez e em 1988, o arquipélago foi incorporado ao estado de Pernambuco.

Pôr do Sol no mirante da praia do Boldró (Foto Synnöve Hilkner)

Pôr do Sol no mirante da praia do Boldró (Foto Synnöve Hilkner)

Os passeios pelas diversas praias são fascinantes. Algumas têm acesso fácil, outras apenas por trilhas difíceis, mas cada praia é singular. Umas pelas águas azuis e verdes, que se confundem com o céu azul, outras pelas rochas escuras, que despertam a criatividade, outras pelas piscinas naturais, formadas por essas rochas. Em quase todas, existem ovos de tartarugas, identificados pelas plaquinhas do Projeto Tamar, que faz um trabalho fantástico de conservação da fauna local.

Percorremos as praias e baías também de barco, escoltados pelos golfinhos rotadores, que diariamente fazem o caminho entre a Baía dos Golfinhos e o alto mar. Na volta para o Porto, cruzamos com a Barqueata, a procissão de barcos, no dia de São Pedro.

O Morro do Pico (Foto Synnöve Hilkner)

O Morro do Pico (Foto Synnöve Hilkner)

Das festividades de junho, pudemos também apreciar a festa de São João local, com forró e comidas típicas. Aliás, ver a população local, as crianças brincando nas ruas, soltando bombinhas, pega-pega e esconde-esconde, remete-nos a tempos antigos. Mas a impressão passa logo, pois a tecnologia da internet está amplamente presente, todos carregando seus celulares 3G e conexão fácil e constante em quase toda a ilha.

As cores que imperam são o azul e verde do mar, do céu, o verde, vermelho e laranja da vegetação, o cinza escuro e azulado das rochas vulcânicas, o marrom avermelhado da terra e das pedras calcárias e, claro, o verde e amarelo das bandeirinhas de São João, em clima de Copa do Mundo de Futebol.

Enfim, Fernando de Noronha é um destino que se deve ter como objetivo de visita nessa vida!

 

 

Sobre Synnöve Hilkner

Finlandesa por nascimento e brasileira por amor, sou uma artista contemporânea e cartunista inquieta, que vive entre lápis e tintas para traduzir, em cores e movimentos, os desassossegos do cotidiano e assim, dar voz a temas que incomodam. Através da arte do humor, busco contribuir, nem que seja só um pouquinho, para um mundo mais justo.

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