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Tese das mudanças climáticas de origem humana tem motivação geopolítica, diz pesquisador da Unicamp
Reservatório quase seco do Cantareira: seria o início de um ciclo de estiagem? (Fotos Adriano Rosa)

Tese das mudanças climáticas de origem humana tem motivação geopolítica, diz pesquisador da Unicamp

Entre os dias 1 e 12 de dezembro as atenções da mídia, governos e lideranças de todo planeta estarão voltadas para mais uma Conferência das Partes (COP-20) da Convenção das Nações Unidas das Mudanças Climáticas, que será realizada em Lima, no Peru. A ideia central da Convenção, e portanto dos vários encontros e programas promovidos em função dela, como a COP-20, é a de que ações antropogênicas, como a queima de combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão, sobretudo), estão contribuindo para aumentar as emissões de gases que agravam o efeito-estufa e as mudanças climáticas em escala global. Esta tese, que está na base por exemplo dos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), tem “motivações geopolíticas e econômicas”, na opinião do professor  Dr.Antônio Carlos Zuffo, do Departamento de Recursos Hídricos da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O especialista da Unicamp entende que os eventos climáticos extremos em curso devem-se a ciclos climáticos observados ao longo da história, sendo todos reflexos das atividades solares. Em média, observa o professor Zuffo, a Terra recebe o equivalente a 1400 w por m2/s do Sol.  Esta quantidade de energia equivale ao poder energético de 9×10 elevado a 20 l/min de gasolina consumidos, ou a dez milhões de vezes a produção anual de petróleo da terra. É o mesmo, igualmente, que a energia produzida por 10 bilhões de Itaipus, segundo os cálculos do professor da Unicamp. A emissão de 1400 w por m2/s do Sol, reitera o professor Zuffo, é apenas uma média. Qualquer incremento ou diminuição da atividade solar, completa, tem um impacto enorme no clima da Terra.

O professor Zuffo nota que os ciclos climáticos já vêm sendo estudados há anos. Um dos mais citados é o que trata do Efeito José, inspirado no personagem bíblico que, ao interpretar o sonho do faraó, previu sete anos de fartura e sete anos de fome. Na área hidrológica, o Efeito José caracteriza períodos de longos períodos de estiagem, seguidos de longos períodos de seca. Exatamente o que ocorreu com os 35 anos de precipitações menores entre 1935 e 1970, seguidos de um período de maior precipitação nas três décadas seguintes na Região Sudeste do Brasil. A atual estiagem, que provoca uma crise hídrica histórica em São Paulo e outras partes do país, seria então o início de um novo ciclo, de precipitações menores.

Professor Dr.Antonio Carlos Zuffo, da Unicamp: tese equivocada leva a políticas públicas equivocadas

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O estudo que deu o nome de José a este fenômeno é de autoria de Benoit B.Mandelbrot e James R.Wallis, que analisaram os dados fluviométricos históricos de grandes rios no mundo, como o Nilo no Egito. O estudo é de 1968, quando estavam sendo iniciadas as obras do Sistema Cantareira. Para o professor da Unicamp, os gestores públicos mostraram desconhecer, ou desconsiderar, esses estudos, o que seria uma das causas da diminuição acelerada dos volumes do Sistema Cantareira, que retira águas da bacia do rio Piracicaba (e portanto da região de Campinas) para abastecer metade da Grande São Paulo.

O especialista da Unicamp lembra que a última grande estiagem em regiões como Sudeste e Nordeste, que levou inclusive a invasões de flagelados no Nordeste, foi em 1953, dentro portanto do período de secas do Efeito José. No mesmo ano houve seca na Califórnia e muitas inundações na Europa e na Amazônia. Pois em 2014 também está havendo forte estiagem no Sudeste e Nordeste, no Brasil, na Califórnia, nos Estados Unidos, da mesma forma que aconteceram grandes inundações na Amazônia e Europa.

Mas também existem outros estudos sobre ciclos climáticos, lembra o especialista. São estudos que dão nome a ciclos solares. “O Sol tem quatro tipos de atividades que são mais ou menos importantes, dependendo da duração desta atividade”, afirma o estudioso da Unicamp. Essas variações na atividade solar, ele explica, foram estudadas por meio da análise do Carbono 14.

O Ciclo de Schwabe (de Heinrich Schwabe, 1789-1875) tem 11 anos. O cientista observou a aparição das manchas solares. No mínimo de Schwabe, “a Terra recebe menos ultravioleta que leva a criar menos ozônio na estratosfera, enquanto que em seu máximo aumenta-se de 1 a 2% a concentração de ozônio”, segundo o pesquisador da Unicamp.

Também obtido com análise de Carbono 14, o Ciclo de Suess mostra uma periocidade de uns 150 a 200 anos. O Ciclo de Gleissberg, por sua vez, tem duração de 70 a 100 anos e foi descoberto em 1958 pelo cientista do mesmo nome, tendo efeito sobre a amplitude do Ciclo de Schwabe, na proporção de 8 x 11 anos. Quase todos os mínimos de Glessberg depois do ano 300 DC, segundo o especialista da Unicamp, como por exemplo 1670, 1810 e 1895, “coincidiram com climas muito frios no hemisfério norte, enquanto que os máximos de Gleissberg  ocorrem com climas mais quentes, como por exemplo para 1130 (ótimo climático medieval)”. Já o Ciclo de Hallstattzeit tem um período de 2300 anos e o máximo deveria ser alcançado no ano de 2800 e seu próximo mínimo em torno do ano 3.950.

O professor da Unicamp observa que teorias climáticas têm sido alteradas nos últimos anos. Na década de 1970, observa, foi forte a tese de que estaria havendo um resfriamento do clima global. Para o professor Zuffo, considerando os ciclos climáticos determinados pelas atividades solares, a tese do aquecimento global de origem antropogênica tem, portanto, motivações geopolíticas e econômicas. “Essa tese não é consenso entre os cientistas”, ele garante. Falar de mudanças climáticas com origem antropogênica, assinala, “tornou-se politicamente correto”.

Entre as motivações geopolíticas e econômicas, estaria a venda de novos produtos e tecnologias, “sempre envolvendo muito dinheiro”. Para ele, a propagação da tese “leva a políticas públicas equivocadas”, e o Brasil também estaria trilhando esse caminho na sua opinião. Ações antrópicas, sustenta o pesquisador, “têm impacto sim no microclima local, mas não no macroclima”. “Neste ano nevou no Brasil”, lembra o professor Zuffo, que admite ser controversa a sua opinião, na medida em que a mídia, por exemplo, tem divulgado majoritariamente a teoria do agravamento do efeito-estufa por ações antropogênicas. Ele defendeu sua posição em eventos como o Seminário Gerenciamento da Escassez de Água na Indústria, realizado em São Paulo, a 22 de setembro, na FIESP.

Nesta primeira semana, de qualquer modo, os olhos da comunidade internacional estarão voltados para a COP-20, em Lima. A expectativa é a de que sejam tomadas decisões importantes para  justamente frear as emissões de gases-estufa. Um acordo global, para valer a partir de 2016, está previsto para a COP-21, em Paris, no final de 2015. (Por José Pedro Martins)

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