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São Paulo corre “risco altíssimo” de desabastecimento de água, diz especialista da Unicamp
Alerta vermelho para Grande São Paulo e região de Campinas: Cantareira quase seco (Fotos Adriano Rosa)

São Paulo corre “risco altíssimo” de desabastecimento de água, diz especialista da Unicamp

É “altíssimo o risco de desabastecimento” de água em 2015 na Grande São Paulo, com reflexos na região de Campinas. Por isso a população em geral dessas regiões, somando cerca de 25 milhões de pessoas, o setor produtivo e os órgãos públicos já deveriam se preparar para um ano que pode ser muito crítico.  A advertência é do professor Dr.Antônio Carlos Zuffo, do Departamento de Recursos Hídricos da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp. Para ele, a população da região mais rica do país está “completamente a mercê do clima”, ou seja, de que chova muito acima da média histórica entre janeiro e março.

O especialista da Unicamp lembra que, no começo de janeiro de 2014, os reservatórios do Sistema Cantareira, formados por águas  da bacia do rio Piracicaba, estavam com 27,2% de sua capacidade. “Mas estes eram valores positivos, ou seja, ainda não tinha sido utilizado o Volume Morto”, observa. Pois neste dia 5 de janeiro de 2015, segunda-feira, os reservatórios do Cantareira estão com 7% de sua capacidade. “Mas lembrando que este é um valor negativo, pois já está sendo usado o Volume Morto”, nota ele. Desde o dia 16 de maio de 2014 a Sabesp, empresa que opera o Cantareira, usa o Volume Morto, adicionando 18,5% ao Sistema. A partir de 24 de outubro foi utilizada a última cota do Volume Morto, representando a adição de mais 10,7% ao Sistema.

Para o professor Zuffo, teria que chover muito acima da média histórica entre janeiro e março de 2015, para que em abril, início da estiagem, os reservatórios estivessem mais ou menos zerados, ou seja, com a recomposição pelo menos do Volume Morto. Mas ele entende que isso pode não acontecer, e por isso a população, o setor produtivo e o poder público deveria se preparar “para o pior cenário possível”, avisa.

Novas obras – Na opinião do especialista da Unicamp, todas as obras que estão sendo anunciadas, para adicionar água ao Cantareira, são positivas, mas ele teme que elas acabem não representado a médio e longo prazo uma real solução para a crise hídrica na região mais populosa e rica do país. “São obras que vão durar pelo menos três anos”, observa. Além disso, o professor Zuffo acredita que as médias anuais de chuvas tendem a diminuir nos próximos anos.

Ele entende que o ciclos climáticos duram períodos de cerca de 30 anos, em função das mudanças das atividades solares. Nas três décadas anteriores ao início do funcionamento do Cantareira (em 1974), por exemplo, as médias anuais de chuvas foram baixas. Nas três décadas seguintes, até 2004, portanto, as médias de chuvas já foram maiores. Desde então, as medidas vêm caindo e essa deve ser a tendência para os próximos anos, avalia o professor Zuffo, para quem as obras que estão sendo citadas podem, então, nem compensar a diminuição anual das precipitações.

O especialista defende, então, a necessidade de um conjunto de medidas, passando necessariamente para a mudança de hábitos de consumo, a redução das perdas por vazamentos nas redes de distribuição de água e campanhas fortes para a redução dos desperdícios.

Professor Dr.Antonio Carlos Zuffo, da Unicamp: risco existe também para região de Campinas

Professor Dr.Antonio Carlos Zuffo, da Unicamp: risco existe também para região de Campinas

Região de Campinas – A região de Campinas,  localizada na bacia dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), também deve se preparar, alerta o especialista da Unicamp. Ele nota que parte importante do abastecimento na região depende da vazão do rio Atibaia, a partir do que é liberado pelo Sistema Cantareira. “Nesta época o Cantareira deveria estar liberando pelo menos 3 metros cúbicos por segundo mas nos últimos dias chegou a liberar menos de um metro cúbico por segundo, ou seja, menos de mil litros por segundo”, nota o professor Zuffo.

As duas obras projetadas para contribuir com a melhoria no abastecimento da região do PCJ, acrescenta o especialista, também demorarão para ficar prontas. São as barragens projetadas para o rio Jaguari, em Pedreira, e Camanducaia, em Amparo.

O professor Zuffo é da opinião de que a região de Campinas, na bacia do PCJ, pode ficar prejudicada em função das regras de redução do consumo da água nas bacias, que estão sendo propostas pela Agência Nacional de Águas (ANA) e Departamento de Águas e Energia Elétrica(DAEE). Estas regras podem ser injustas para o PCJ, analisa ele, se elas, que são as bacias doadoras, representarem na prática uma melhoria apenas nas condições de abastecimento da Grande São Paulo, situada na bacia do Alto Tietê e que é a área receptora das águas. “A Grande São Paulo tem maior poder político”, lembra o especialista.

Um importante alento, na sua opinião, foi a troca da cúpula dos recursos hídricos em São Paulo, pelo governador Geraldo Alckmin, que nomeou Benedito Braga para a Secretaria Estadual de Recursos Hídricos e Saneamento, Jerson Kelman para a presidência da Sabesp e Ricardo Borsari para superintendência do DAEE. “Eles são técnicos renomados, que vão passar a olhar a questão do abastecimento pelo lado técnico e não econômico como vinha ocorrendo”, acrescenta o professor Zuffo. Para ele, o predomínio da perspectiva econômica sobre a técnica nos últimos anos é uma das causas da crise hídrica que atravessam duas regiões estratégicas par ao Brasil, a Grande São Paulo e a região de Campinas, nas bacias PCJ. A Sabesp, por exemplo, passou a operar na Bolsa de Nova York.

Benedito Braga é presidente do Conselho Mundial da Água e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Jerson Kelman foi o primeiro presidente da Agência Nacional de Águas (ANA). Os dois têm doutorado em universidades americanas: Braga em Stanford e Kelman na Colorado State University – CSU. (Por José Pedro Martins)

 

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