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Cantareira chega a 6% e é uma das cinco grandes tragédias ecológicas do Brasil
Cantareira quase seco em janeiro de 2015: a imagem da crise hídrica (Fotos Adriano Rosa)

Cantareira chega a 6% e é uma das cinco grandes tragédias ecológicas do Brasil

Com a capacidade total de 1 trilhão de litros, e cobrindo uma área de 2.270 quilômetros quadrados, o Sistema Cantareira está quase todo seco, configurando uma das maiores tragédias ecológicas do Brasil, ao lado da devastação da Mata Atlântica, a poluição no “Vale da Morte” de Cubatão, o fim das Sete Quedas e o desmatamento na Amazônia. Os reservatórios do Cantareira chegaram a 6% de sua capacidade nesta sábado, 17 de janeiro, aumentando o risco de desabastecimento na Grande São Paulo e com impacto na Região Metropolitana de Campinas (RMC), situada nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ).

Formado por cinco reservatórios situados na bacia do rio Piracicaba, e mais um no Alto Tietê, o Sistema Cantareira passa por uma crise histórica desde o final de 2013. Em 16 de maio de 2014 a Sabesp, que administra o Cantareira, passou a utilizar a primeira cota do Volume Morto. No dia 24 de outubro passou a ser utilizada a segunda cota do Volume Morto. As quedas no nível dos reservatórios têm sido constantes, pelas chuvas irregulares na área de cobertura do Sistema, atingindo 6% neste sábado.

É enorme a possibilidade de um colapso no Cantareira até março, consolidando um dos maiores desastres ecológicos da história brasileira. Mais de 6 milhões de pessoas ficariam sem água. O desabastecimento também atingirá o setor produtivo, na indústria e agricultura. “A cada dia que passa, é altíssimo o risco de desabastecimento”, afirma o professor Dr.Antônio Carlos Zuffo, do Departamento de Recursos Hídricos da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp. As outras grandes tragédias ecológicas do Brasil:

Destruição da Mata Atlântica – A Mata Atlântica cobria originalmente  1.315.460 km2, cobrindo a maior parte dos territórios de 17 Estados (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Alagoas, Sergipe, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí). Atualmente, por um modelo predatório de ocupação, adotado desde a colonização portuguesa, os remanescentes com mais de 100 hectares de Mata Atlântica somam apenas 8,5% do bioma. Somando-se todos os remanescentes, restam somente 12,5% de vegetação de Mata Atlântica. Apesar disso, continua sendo um dos grandes hotspots de biodiversidade em todo planeta. Mais de 70% da população brasileira vivem em área originalmente de Mata Atlântica.

“Vale da Morte” – Durante muito tempo a área do complexo industrial localizado no município de Cubatão foi conhecida como “Vale da Morte”, por apresentar um dos maiores índices de poluição atmosférica do mundo. Em 1926 foi inaugurada a usina de Henry Borden, que forneceria a energia para o futuro parque industrial, praticamente aberto com a Refinaria Presidente Bernardes, da Petrobrás. Na década seguinte vieram a Cosipa e muitas outras indústrias de grande porte. Em pleno regime militar, a poluição atmosférica atingiu índices altíssimos, e com uma concentração facilitada pela localização do polo, em um vale ao lado das encostas da Serra do Mar. Em 1983 chegou a ser produzido um volume de mil toneladas diárias apenas de material particulado. Com a redemocratização, e o avanço da legislação ambiental, a liberdade de imprensa e avanço da consciência, passaram a ser tomadas medidas para reduzir os índices de poluição em Cubatão. Mais de US$ 1 bilhão foi aplicado no controle e monitoramento de 320 principais fontes de poluição.

Destruição das Sete Quedas –  O dia 13 de outubro de 1982 marcou o início do fechamento do Canal de Desvio da usina hidrelétrica de Itaipu, selando a destruição das Sete Quedas, uma das grandes maravilhas da natureza em todo mundo, na bacia do rio Paraná, no estado do Paraná.  “Sete quedas por mim passaram, e todas sete se esvaíram”, escreveu na ocasião o poeta Carlos Drummond  de Andrade, um dos muitos que protestaram, em vão, pelo desparecimento dos saltos, para garantir a construção da “maior usina hidrelétrica do mundo” na ocasião.

Desmatamento da Amazônia – Com mais de 5,5 milhões de quilômetros quadrados, a Amazônia cobre mais da metade do território brasileiro, sendo uma das maiores florestas tropicais do planeta. Calcula-se que cerca de 17% da Amazônia já foram destruídos,  sobretudo pelo desmatamento derivado da pecuária, do corte ilegal de árvores e avanço da agricultura. A taxa de desmatamento na Amazônia vinha decrescendo de modo substantivo desde 2004, quando superou a faixa de 25 mil quilômetros quadrados por ano, o que já havia ocorrido em 1995. Mas desde 2005 as taxas anuais médias diminuíram, até atingir   4.571km² desmatados entre 2011 e 2012. Entre 2012 e 2013 voltou a subir, para 5.891km², ou 29% a mais do que a média do período anterior. Entre agosto de 2013 e julho de 2014 foram desmatados 4.848 quilômetros quadrados (km²), 18% a menos que no período anterior.

Falta pouco para a água do Cantareira desaparecer

Falta pouco para a água do Cantareira desaparecer

 

 

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