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Anúncio de fechamento da Oficina Cultural Hilda Hilst mobiliza internautas; em todo o estado acontecem cortes na área
Espaço onde funcionava a Oficina Cultural Hilda Hilst (Foto Martinho Caires)

Anúncio de fechamento da Oficina Cultural Hilda Hilst mobiliza internautas; em todo o estado acontecem cortes na área

Por Adriana Menezes.

Está marcada para o dia 11 de abril, às 10h, uma manifestação pública, no Centro de Convivência Cultural de Campinas, contra o fechamento já anunciado da Oficina Cultural Hilda Hilst (OCHH), que faz parte do Programa Oficinas Culturais administrado pela Organização Social Poiesis, em conjunto com a Secretaria de Cultura do Estado. A mobilização acontece pelas redes sociais, onde há mais de dez dias circulam reclamações, petições e protestos. Criada em 2005, a OCHH atendeu só no ano passado 1.412 pessoas com suas atividades. Os ex-alunos, artistas, simpatizantes ou simplesmente os defensores do direito ao acesso à cultura querem impedir a medida e vão se manifestar com apresentações artísticas e protestos na data marcada. A justificativa do governo do Estado para a medida é a “readequação do orçamento estadual”.

Em comunicado oficial, a Organização Social responsável informou que “a reestruturação foi definida pela Poiesis, com a Secretaria de Cultura do Estado, em virtude da readequação do orçamento estadual, seguindo diretriz de qualificação dos gastos e otimização dos recursos.“ O fechamento deve acontecer no dia 12 de abril.

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Sem resposta

Procurada pela Agência Social de Notícias (ASN) há sete dias, a assessoria de imprensa do programa de oficinas atendeu prontamente por telefone, mas solicitou as perguntas por e-mail, que logo foram enviadas pela reportagem. A agência, no entanto, permanece sem resposta. A assessoria chegou a avisar que, devido à grande demanda da imprensa, o prazo para a resposta seria longo e sem previsão, como de fato está sendo. Enquanto isso, forneceu o comunicado oficial, onde há ainda a seguinte explicação sobre os cortes: “A medida possibilitará economia dos valores de aluguel, de manutenção e de serviços agregados dos prédios desativados, que serão revertidos para a programação cultural destinada às regiões.”

Também encerram suas atividades outras cinco unidades de oficinas culturais, além da de Campinas: Lélia Abramo (Araraquara), Guiomar Novaes (São João da Boa Vista), Glauco Pinto de Moraes (Bauru), Silvio Russo (Araçatuba) e Luiz Gonzaga (São Paulo), que “serão absorvidas” por outras sedes (15 que sobraram), diz o comunicado. Em 2014, o programa desenvolveu atividades em cerca de 300 municípios paulistas.

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Inconformados com a perda

A produtora de conteúdo para web Gisele Travagim, de 33 anos, é uma das inconformadas com o fechamento da Oficina Cultural Hilda Hilst. Há muitos anos ela participa das atividades. Em 2013, fez produção de moda; no ano seguinte, fotografia; depois, transmídia. “Os cursos são muito bacanas e rápidos, num formato legal, onde você também faz networking. São turmas pequenas, de no máximo 15 pessoas. Tudo agrega ao aprendizado”, descreve.

“Seria uma grande perda, porque em Campinas não há lugares públicos com isso. Na Unicamp a abordagem é diferente, e lá é mais fechado. Na Oficina Hilda Hilst o acesso é mais fácil, há um crivo mais tranquilo. Assinei uma petição pelo não fechamento e ainda tenho muita esperança de que não feche”, afirma Gisele.

No Facebook, foi criado um perfil para a adesão à “Petição contra o fechamento da Oficina Cultural Hilda Hilst Campinas” – nome dado ao perfil -, onde as pessoas também podem se informar sobre a mobilização agendada para o dia 11 de abril. No texto de apresentação, o registro: “O fechamento da Oficina Hilda Hilst significa uma perda inimaginável para a cultura brasileira. Não só um símbolo de uma das maiores poetisas brasileiras, mas também um centro de formação profissional para estudantes de diversas áreas da arte, onde nos traz a oportunidade de conhecer novos caminhos além de compartilharmos experiências culturais com profissionais de extrema importância para área artística.”

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Sem retrocesso, sem confusão

Uma das integrantes do grupo que organiza os protestos e a petição, Malú Mairy, acrescenta o seguinte comentário: “Nós não estamos protestando em busca de um culpado, até porque agora a única opção que temos é tentar achar um jeito dela (a oficina) continuar mesmo sem os apoios anteriores; é um protesto cultural.”

Também já foi protocolada na Câmara Municipal de Campinas uma moção de apelo ao governador Geraldo Alckmin, pelo vereador Gustavo Petta (PCdoB), para que seja revista a decisão da Secretaria de Estado da Cultura de fechar a Oficina Cultural Hilda Hilst (OCHH). “O fim desse importante centro de cultura representa um retrocesso para Campinas, que perde um grande foco de formação cidadã e de fomento artístico”, divulga o vereador. “Por isso me somo aos manifestantes que irão ocupar o Centro de Convivência Cultural no dia 11/04 (sábado), a partir das 10h.”

Também no Facebook, o Instituto Hilda Hilst (IHH) publicou um Comunicado para esclarecer que ele permanece aberto. “O Instituto Hilda Hilst deseja esclarecer a confusão que tem sido feita recentemente com o fechamento das Oficinas Culturais Hilda Hilst. (…) IHH e Oficinas Culturais Hilda Hilst são instituições completamente diferentes. Enquanto nós do IHH somos uma OSCIP – portanto privada – que administra diretamente o legado de Hilda Hilst, tendo como sede a Casa do Sol, as Oficinas Culturais são um órgão do Estado de São Paulo – portanto público – que apenas homenageia Hilda em seu nome e tem atividades culturais de diversos tipos, em especial cursos e oficinas. Portanto, o IHH NÃO está fechando, pelo contrário, está crescendo e ampliando cada vez mais suas atividades. Esclarecida a situação, o Instituto Hilda Hilst se coloca totalmente contra o fechamento das Oficinas Culturais Hilda Hilst e considera o fato uma enorme perda cultural para a população do Estado de São Paulo, em especial a da região metropolitana de Campinas.”

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Enxugamento na Cultura

Os cortes na Cultura acontecem em todo o Estado de São Paulo, e não apenas nas oficinas culturais. O governo estadual, sob administração do governador Geraldo Alckmin, já anunciou que vai economizar R$ 2 bilhões, começando pelos cargos comissionados. Quatro museus anunciaram demissões. Na Pinacoteca, em São Paulo, haverá redução de 15% nos gastos – em projetos e em folha de pagamento. Oficialmente, serão 29 demissões. No Museu Afro Brasil, a previsão é um corte de 18 e 25 pessoas. O Museu da Imagem e do Som (MIS) paulistano e o Paço das Artes também passam pelo mesmo processo. A justificativa continua sendo “a deterioração da economia nacional”.

 

Exposição Protesto ao Fechamento da Oficina Cultural Hilda Hilst

Local : Centro de Convivência Cultural de Campinas
Endereço : Praça Imprensa Fluminense, s/nº – Bairro : Cambuí – Campinas -SP
Data : Dia 11 de Abril de 2015 ( sábado )
Horário : a partir das 10:00h ( 10 horas da manhã )

Sobre Adriana Menezes

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