Entre 1970 e 2013, a matriz energética brasileira passou a usar mais combustíveis fósseis, como petróleo e gás, ficando portanto mais suja e aumentando significativamente a sua contribuição para a emissão de gases que alimentam as mudanças climáticas. Também aumentou muito a participação da agropecuária e do setor de resíduos na emissão de gases atmosféricos, enquanto diminuiu sensivelmente a importância das mudanças no uso da terra, em função da queda do desmatamento na Amazônia. Esta é uma das conclusões de uma análise ampliada sobre as emissões brasileiras, que acaba de ser divulgada pelo Observatório do Clima, com o apoio de várias organizações científicas e sociais.
O trabalho é parte da preparação da sociedade civil brasileira para a Conferência da Convenção das Mudanças Climáticas (COP-21), que será realizada em dezembro em Paris e que vai buscar um acordo global para a redução das emissões que agravam o efeito-estufa. O Observatório do Clima espera que o estudo “Evolução das emissões de gases de efeito estufa no Brasil (1970-2013)” contribua para a proposta que o Brasil vai apresentar na COP-21, termos das sua contribuição para a redução global dos gases-estufa (GEE).
O estudo mostra que, entre 1990 e 2013 (não incluindo a mudança de usos da terra, pois não há dados confiáveis entre 1970 e 1989) as emissões de GEE declinaram de 1,83 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente (Gt CO2 e) para 1,59 Gt CO2 e, redução de 15%. A queda é explicada sobretudo pela redução significativa das emissões pelas mudanças de uso da terra, particularmente pela queda do desmatamento na Amazônia. Esse desmatamento já foi responsável por mais de 60% das emissões brasileiras.
Em 2013, a mudança nos usos das terras continua sendo a maior fonte individual de emissão de GEE no Brasil, com 542 milhões de toneladas, ou cerca de um terço das emissões totais, enquanto outros setores passaram a contribuir mais para as emissões. O setor de energia quadruplicou suas emissões, de 114 milhões de toneladas em 1970 para 449 milhões em 2013, tornando-se a segunda maior fonte e se aproximando das emissões pelas mudanças no uso das terras. Isto se deve à mudança do perfil da matriz energética, que tinha mais de 50% de presença de fontes renováveis em 1990. Em 2013 essa participação de energias renováveis caiu para 41% e em 2014 ficou abaixo dos 40%.
O setor agropecuário mais do que triplicou sua contribuição, de 161 milhões de toneladas em 1970 para 418 milhões de toneladas em 2013, firmando-se como terceira maior fonte. Os processos industriais aumentaram as emissões de 14 para 99 milhões de toneladas no período e o setor de resíduos, de 16 para 49 milhões de toneladas.
O Observatório do Clima destaca que a redução de 15% nas emissões entre 1990 e 2013 (enquanto o mundo aumentou as emissões em 35%, chegando a 52 bilhões de toneladas) deve ser relativizada. Houve momentos de aumento nas emissões, como em 1995 e 2004, quando chegou a mais de 2,8 Gt CO2 e.
O estudo mostra que o maior uso de termelétricas nos últimos anos, em razão da crise hídrica, contribuiu para as emissões de GEE, mas que essa tendência já ocorria anteriormente, mesmo antes da estiagem que afeta os reservatórios.
O Observatório do Clima faz, ao final, uma série de propostas para que em 2030 as emissões brasileiras cheguem a 1 Gt CO2 e, contribuindo com o urgente esforço global. O desmatamento deveria ser zerado em todos os biomas, e não só na Amazônia. Devem ser recuperados 14 milhões de hectares de áreas degradadas. A expansão agropecuária, para chegar a mais de 260 milhões de cabeças de gado de corte e em mais de 20 milhões de hectares, precisa ser feita preservando florestas e recuperando áreas degradadas. Adotar metas mais agressivas de eficiência energética e de uso de transporte público (com uso de combustíveis mais limpos no lugar do diesel) no lugar do individual. Ampliar consideravelmente o uso de fontes renováveis como solar e eólica. Uma série de medidas que depende de vontade política e independe da crise política que o país atravessa.