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Olimpíadas: O Atleta e o Mito do Herói
Imagem de atleta nas Olimpíadas da Grécia Antiga (Reprodução)

Olimpíadas: O Atleta e o Mito do Herói

Por Adriana Menezes

As Olimpíadas 2016 já começaram. Hoje acontece no Rio de Janeiro a festa oficial de abertura, e o clima na cidade já é de festa. Para quem não está na Cidade Maravilhosa, restam as transmissões pela TV ou internet, nos canais convencionais ou alternativos. Muito mais que um espetáculo esportivo, todos nós sabemos que o evento é também político e social. Temos ali ampliados os problemas nacionais de segurança e violência, de má gestão e corrupção, de obras superfaturadas e inacabadas, de uso político, de desigualdades sociais, e muito mais. Mas temos também aquilo que nós somos. Sem ufanismos ou paixão cega, é preciso enxergar o que temos e o que somos. A minha torcida é para que a Olimpíada tenha a nossa cara, com erros e acertos, porque o esporte compõe o imaginário social e é também um bem cultural para a sociedade, diz Katia Rubio em seu livro “O Atleta e o Mito do Herói”.

olimpiadas rio 2016Para entrar no clima olímpico à distância, compartilho abaixo a resenha que fiz deste livro onde a autora mostra a diferença entre o esporte e uma simples atividade física. O objetivo de Rubio, jornalista e psicóloga, é compreender a constituição do imaginário do atleta. Publicado há 15 anos, o livro traz uma análise muito atualizada. A construção desse imaginário esportivo contemporâneo se dá a partir da relação entre os feitos atléticos e as façanhas heroicas da mitologia.

Uma versão reduzida e editada por Patrícia Mariuzzo foi publicada na Revista eletrônica Pré-Univesp (número 58, edição de junho. Confira aqui).

O texto que segue abaixo é a primeira parte da resenha, que dividirei em três partes.

livro capa o atleta e o mito do heroi

O Atleta e o Mito do Herói

Quem começa a ler o livro “O Atleta e o Mito do Herói – O imaginário esportivo contemporâneo”, de Katia Rubio (São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001) com a expectativa de que vai encontrar tão somente um texto sobre atletas e mitos, especificamente, vai se surpreender com uma análise que extrapola este universo esportivo e mitológico.

A leitura vai acrescentar conceitos e teorias de História, Filosofia, Comunicação e Psicologia, finalizando com um toque jornalístico onde a autora inclui depoimentos de atletas reais – sem seus nomes, mas que em alguns casos são facilmente identificados.

O estilo e o formato do texto estão muito alinhados à formação da autora, que é jornalista e psicóloga, mestre em Educação Física e doutora em Educação. Na atuação profissional, já participou do Conselho Regional de Psicologia (CRP) como conselheira titular e foi coordenadora da Comissão de Esportes da mesma entidade.

Katia Rubia desenvolve sua análise a partir de conceitos que ela apresenta de forma aprofundada e com muitas referências. Parte da premissa de que o esporte compõe o imaginário social e é também um bem cultural para a sociedade. Quando busca esclarecer o conceito de esporte, ela mostra a diferença entre esporte e uma simples atividade física.

O objetivo da jornalista e psicóloga é compreender a constituição do imaginário do atleta. A construção desse imaginário esportivo contemporâneo se dá a partir da relação entre os feitos atléticos e as façanhas heroicas da mitologia. A autora vai relacionar o regime de imagens de Gilbert Durand e o trajeto heróico de Joseph Campbell.

Joseph Campbell e sua obra “O poder do mito” servem de referência para a autora ao longo do seu trabalho. Por ser referência sobre a análise do mito, Campbell é muitas vezes citado. Para ele, mito é parte integrante e indissociável da existência humana. Os mitos têm sido a inspiração de todos os demais produtos possíveis das atividades do corpo e da mente humanos.

Na definição de Gilbert Durand (1985), o mito se configura como um relato (discurso mítico) que dispõe em cena personagens, situações, cenários, segmentados em unidades semânticas carregadas por uma crença. O imaginário, conforme Durand, é um sistema ordenador de imagens que permite compreender o modo organizador do indivíduo.

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O texto passa ainda pelo conceito de Jung sobre arquétipo, que deriva da observação sistemática de que os mitos e os contos da literatura universal encerram temas bem definidos que reaparecem sempre por toda a parte.

A autora percorre uma aventura mítica, perseguindo o trajeto heroico dentro do esporte, buscando integrar elementos do universo esportivo competitivo contemporâneo em sua descrição. O esporte é tratado como uma expressão da cultura atual e como produto de comunicação de massas. Dentro desta cultura contemporânea, os meios de comunicação de massa vão exercer um papel crucial na construção do imaginário do mito.

O atleta enquanto herói constela entre figuras como Hércules, Ulisses, Jonas, sempre como o idealizador de feitos incomuns. Essa despersonalização vincula o herói esportivo ao herói arquetípico, conduzindo ao território do imaginário e todo um universo simbólico, porém desconhecido.

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