O Rio de Janeiro continua lindo nos cartões postais, nas propagandas oficiais, na natureza exuberante e no coração dos cariocas. Mas a população também sabe que a cidade que completa 450 anos exibe enormes desafios, de ordem social e política, sintetizados em talvez uma palavra: violência. A violência traduzida no poder do narcotráfico, mas também a violência da desigualdade, da intolerância e dos impactos no meio ambiente que possibilitou a transformação do Rio em um ícone mundial, a sede da Eco-92 e Rio+20. A criatividade do Rio de Janeiro é a esperança em um futuro melhor.
O dado pode parecer surpreendente para a maioria, mas o fato é que o Rio de Janeiro é o segundo estado com menor proporção de população entre 0 e 18 anos: 27,57%. O Rio perde apenas para o Rio Grande do Sul, que tinha 27,41% da população entre 0 a 18 anos em 2010, segundo o Censo do IBGE.
Este número já dá uma dimensão dos desafios para o Rio de Janeiro, capital. A imagem do Rio é jovem, sempre dinâmica e alegre, agradecida pela beleza de sua paisagem. Mas a média da população jovem do estado sendo uma das menores do país já aponta para mudanças demográficas em curso, e para as quais a Cidade Maravilhosa – e talvez o Brasil – ainda não acordou devidamente.
O contingente de população que mora em favelas no Rio de Janeiro também representa um desafio, e ao mesmo tempo sinal de esperança. O Rio de Janeiro, estado, é o terceiro com maior proporção de população em favelas, pelo Censo de 2010: eram 12,70% nessa condição, atrás somente do Pará e Amapá, com 16,75% e 16,20%, respectivamente. A cidade do Rio de Janeiro tem uma proporção muito maior e moradores em favelas: eram 22% dos 6,3 milhões de cariocas.
As favelas do Rio de Janeiro têm demonstrado uma vitalidade impressionante, com forte movimento social e cultural. Mas é imperativo reconhecer que as favelas continuam representado desafios sociais relevantes para a cidade brasileira mais visitada pelos turistas. E a proporção continua aumentando: em 2000, 18,65% de moradores do Rio de Janeiro viviam em favelas. Em números absolutos, a população favelada cresceu de pouco mais de 1 milhão para 1,4 milhão em uma década.
O mesmo Censo de 2010 comprovou a extrema desigualdade no Rio de Janeiro. Enquanto na Lagoa, na Zona Sul, 18,4% da população de dez anos ou mais ganham mais de 20 salários mínimos, em Manguinhos, na Zona Norte, 34%da população na mesma faixa etária viviam com até um salário mínimo.
Talvez o maior símbolo da disparidade do Rio seja a situação dos moradores da Rocinha e de São Conrado. A renda nominal média mensal deste último era mais de dez vezes superior à daquela que já foi apontada como maior favela da América Latina.
De fato o amor à vida é o combustível do carioca, como um espelho do próprio Brasil. A cidade que gerou a Bossa Nova, que abriga o templo do futebol brasileiro e que continua sendo a matriz cultural – como no Carnaval renovado pelas centenas de blocos e cordões – e política de tanta coisa brilhante para o país continua surpreendendo e ainda será o berço de muitas ideias e realizações transformadoras. A requalificação do Centro do Rio, por exemplo, que voltou a ser um forte polo cultural, é um emblema, um sinal de esperança. Mas realmente é preciso superar os enormes desafios, como a despoluição da Baía da Guanabara, que será um dos palcos das Olimpíadas de 2016, na mesma cidade que sediou a Eco-92 (e depois a Rio+20), esperanças para o mundo todo. (Por José Pedro Martins)